FrancePo é um canal para a discussão da política francesa, de seus principais atores, suas tendências e sua história, escrito por um jovem internacionalista
Entre fortunas e
equipes de futebol, a fronteira belga-francesa esteve movimentada ao longo de
2012
As relações entre a França e a Bélgica deram o que falar
neste ano. Não tanto pela recepção do novo presidente francês por Bruxelas, mas
sobretudo por assuntos bem originais nas relações entre os dois vizinhos.
O star francês Gérard Depardieu partiu para a Bélgica para escapar dos altos impostos franceses...
Primeiramente, o ano foi marcado por ricaços franceses que
cruzaram a fronteira em busca de vantagens fiscais. Em um primeiro momento, foi
o executivo francês Bernard Arnault, o homem mais rico da França e também da
União Europeia, cuja fortuna é estimada em 41 bilhões de dólares (fazendo dele
o quarto homem mais rico do mundo em 2012 pelos dados da Forbes), que pedira ‘exílio fiscal’ na Bélgica para fugir dos altos
(altíssimos) impostos de sucessão franceses (que se elevam à 40% contra 3% do
lado belga). Após o executivo, foi o ator francês Gérard Depardieu que deu
início ao processo de naturalização belga, tendo adquirido uma residência no
país (próximo à fronteira com a francesa Lille) e entregado seu passaporte
francês, buscando igualmente fugir de suas obrigações com o fisco francês.
Em face da polêmica, o ministro dos negócios estrangeiros
belga, Didier Reynders, declarou que a Bélgica estaria pronta a estender a mão
aos franceses que buscam o ‘exílio fiscal’, deixando claro que a França deveria
“assumir as conseqüencias de um sistema fiscal que conduz seus cidadãos
nacionais a deixarem o país”. O sistema fiscal belga é o mesmo desde 1830, ao
passo, que o francês sofre constantes modificações de acordo com a mudança dos
governantes e a alternância da direita e esquerda no poder. Procurando restabelecer
a calma em um caso que suscitou inúmeras reações dos dois lados da fronteira (o
primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault taxou a fuga fiscal de Depardieu
de patética5), o ministro belga tratou de lembrar que seus
concidadãos atravessam a fronteira para fazer compras na França devido ao
imposto sobre o consumo (TVA – Taxa sobre o valor acrescentado) ser menor do
lado gaulês. Vale lembrar que ainda que ambos os chefes de governo francês e
belga sejam socialistas (Elio di Rupo, o atual primeiro-ministro belga desde
dezembro de 2011, que esteve inclusive presente na campanha de François
Hollande em janeiro deste ano), uma crise mediática não foi evitada no caso do ‘exílio
fiscal’.
Mas nessa quarta-feira, o ‘exílio’ tomou a direção contrária. Ou seja, desta vez,
são belgas cruzando a fronteira em busca de vantagens na França. Contudo, não
se trata de nenhum grande executivo ou ator renomado belga que procura se
instalar no Hexágono, e sim... uma equipe de futebol!
Assim, ainda que os impostos franceses não sejam bem vistos
pelos belgas, pelo menos o futebol dos gauleses continua admirado do outro lado
da fronteira, a ponto de uma grande equipe da primeira divisão belga – o Standard
de Liège, uma das equipes mais ricas do país de Jacques Brel e Tintim – dar a entender que iria aderir
à 1ª Divisão do Futebol Francês.
...enquanto o dirigente belga Roland Duchâtelet procura a França para aumentar direitos de imagem de seu time.
Roland Duchâtelet, o presidente do clube de Liège – a quarta
cidade da Bélgica – defende a criação de uma liga de futebol reunindo clubes
belgas e holandeses – oito clubes belgas e doze holandeses, buscando respeitar
um critério demográfico, explica logo o dirigente belga - a fim de evitar a
morte natural do campeonato belga. A criação da Beneliga seria necessária para que os clubes belgas pudessem
recuperar direitos televisivos que perderam para outros clubes europeus nos
últimos anos. Segundo Duchâtelet «Há 15 anos, os clubes belgas tinham o
monopólio do futebol na Bélgica, as transmissões televisivas apenas mostravam
jogos belgas, mas, hoje em dia, estamos numa situação de forte concorrência com
a Premier League, a Liga Espanhola ou a Bundesliga Alemã, é um problema
existencial, não o reconhecer seria uma idiotice».
Duchâtelet estabeleceu o prazo de dois anos para a criação do
campeonato belga-holandês, o qual já teria o apoio dos maiores clubes das
antigas Províncias Unidas, a saber: Anderlecht e Bruges (belgas) e Ajax e PSV
Eindovhen (holandeses).
Caso o prazo não seja respeitado e o projeto não seja levado
adiante, o Standard de Liège irá aderir a Liga francesa, o que segundo o
presidente do clube, é legalmente possível, caso os franceses estiverem de
acordo. Exílio ‘televisivo’, ‘mediático’?
Segundo Arnaud Rouger, diretor de atividades esportivas da
Liga de Futebol Profissional (LFP) da França, a equipe belga não poderia
participar da Liga Francesa apenas através de um pedido, pois tanto FIFA como
UEFA – instâncias superiores do futebol internacional – não autorizam as
federações, como a LFP, de englobar clubes que não pertençam ao seu território
nacional. Além disso, seria necessário que a equipe belga fosse uma sociedade
de direito francesa. Ainda segundo Arnaud Rouger, a equipe de Liège já havia se
informado junto à LFP da possibilidade de integrar a Liga Francesa há 6-7 anos,
mas nenhum pedido oficial foi requisitado.
Não fechando a porta totalmente aos belgas, Rouger declarou
que “a questão poderia ser estudada, mas há inúmeros obstáculos para
conseguir-se alguma coisa”.
Realmente parece que não são apenas as grandes fortunas francesas
que sofrem da falta de ‘solidariedade’ dos responsáveis nacionais, mas os
clubes de futebol estrangeiros que buscam exílio ‘televisivo’ na França também!
21 de abril de 2002. O socialista francês Lionel Jospin reúne sua
equipe de campanha e seus militantes para fazer seu discurso após o fracasso do
PS na eleição presidencial francesa daquele ano na qual ele, pela segunda vez,
representava os socialistas. Jospin não esconde seu desapontamento com os
resultados, afinal ele era primeiro-ministro até então e ainda por cima bem
avaliado, toma a responsabilidade pela derrota e por final, se retira da vida
política francesa.
28 de outubro de 2012. O tucano José Serra reúne sua equipe de campanha
e seus militantes para discursar após a terceira derrota em eleições
majoritárias nesta década. Após ter sido duas vezes derrotado na corrida
presidencial, Serra desta vez perde para o novato Fernando Haddad na disputa da
prefeitura paulistana. Serra discursa em consonância ao seu pronunciamento de 2010
(na sequência da derrota à também novata Dilma Rousseff): não se responsabiliza
pela derrota, nem a lamenta profundamente, pelo contrário. Asfixiado, disse que
saíra da eleição com ainda mais energia, mas que sinceramente não sabia no que
empregá-la. Engana a si mesmo, e só.
Esse texto procura ajudar Serra a
encontrar um bom emprego para tanta energia: largar a toalha e abandonar a política,
uma tarefa que aliás, requer tamanha energia e que já devia ter sido tomada.
Se a derrota une José Serra a
Lionel Jospin, a reação face a ela, os separa. Um reage respeitando a decisão
dos eleitores, afinal democrática; outro não a aceita. Retirando-se da
política, este avança; Enganado-se na posição de líder, o outro afunda.
A saída de Lionel Jospin não
levou automaticamente os socialistas de volta ao poder na França, levaram, ao
contrário, 10 anos mais para isso acontecer. Em 10 anos, Jospin tendo saído da
vida política francesa e aberto mão da liderança dos socialistas, o PS se
reestruturou, adotou novas políticas e abriu espaço para novos nomes. Em 2007 não
suficiente, ainda teve de engolir outra dura derrota na presidencial, mas em
2012 deu a volta por cima, e com François Hollande – um nome desligado da era
Jospin – retomou o Eliseu.
A esperada (achei ‘provável’ uma
palavra muito forte em se tratando de José Serra) saída de Serra também não
fará do PSDB vitorioso nas próximas eleições. Muita coisa precisa ser
reconstruída. Certamente ainda há Aécio Neves, mas desde FHC o PSDB não faz que
queimar seus grandes nomes (Serra de outrora, Alckimin e Aécio), enquanto que
sem grandes nomes o PT se fortalece. No entanto, a saída de Serra é necessária:
só assim, questões obscuras como o apoio de Silas Malafaia poderá ser revisto e
só assim igualmente o partido estará descansado de ter que encontrar um novo
cargo para Serra após cada derrota premeditada. Até o povo tucano gostaria que
Serra surpreendesse à la Jospin.
Desde 2002, quando deixou a vida
política, Lionel Jospin tem se dedicado a outras tarefas: escreve, constantemente
é convidado a se exprimir em cadeias de rádio e televisão nacionais, participa
dos grandes congressos do PS. Recuperou o devido respeito que qualquer derrota
coloca em risco. Após o desmoralizante governo Sarkozy, o novo presidente
François Hollande chamou Lionel Jospin para liderar uma comissão responsável
justamente por moralizar a vida política. Honra recuperada! Exemplo (apesar de
eu desconhecer José Serra escritor) a
ser seguido, ex-tudo Serra!
Em 2010, Serra disse que chegou
ao final da campanha – que trouxera mais uma derrota – com a mesma energia com
a qual a começara. Em 2012, repetiu – praticamente de forma idêntica – a frase.
Errou e repetiu no erro. O PSDB afunda.
O PSDB afunda, resistirá por mais
tempo que se esperava provavelmente (ainda tem cartas a queimar e eventualmente
dá sorte em ressuscitar um tipo como Artur Virgílio ou ACM Neto). Mas, certamente
desaparecerá. A derrota em São Paulo agrava ainda mais a situação e o PSDB
começa o projeto 2014 não disputando com Dilma Rousseff o Palácio do Planalto,
mas com Eduardo Campos a preferência dos analistas como maior desafiante ao
poder petista.
Se o PSDB está nesta situação, muito se deve a Serra: duas
derrotas presidenciais não podem ser relativizadas. E se Serra errou, é porque
não quis ser Jospin: colocou sempre sua fixação em entrar para história como
presidente acima do interesse de seu partido, de “seu povo”, e não desistiu; sequer
mudou e apenas seguiu irresponsavelmente em frente. Cego, não olhou para o lado
e não percebeu que pode-se entrar na história por vários motivos, como fez
Jospin, que renunciou ao sonho e abriu espaço para o novo. Serra sufocou o
PSDB, ao não dar espaço para o novo. Serra sufocou a democracia, ao se alinhar
com as ideias mais conservadoras e reacionárias deste país transferidas pelo
discurso fundamentalista evangélico. Serra sufocou a análise crítica, ao não
reconhecer sua responsabilidade pela derrota. Serra sufocou a si mesmo. E
morreu. No discurso da morte acenou com um “até logo” (2010), quando todos
gritavam: Serra, seja Lionel Jospin!
Eu gostaria de ver José Serra ter a coragem de Lionel
Jospin.
Ódio a Serra? Não, simplesmente muito carinho pela nossa
frágil democracia, que tanto terá uma oposição fracassada, tanto terá um
governo irresponsável. Serra, seja Jospin!
Amor a Serra? Tampouco, se aviso é porque simplesmente penso
que Serra ainda não tenha tomado conta que a hora de se retirar da política passou.
Prezo pela integridade da política: Serra, seja Jospin!
Na próxima quarta-feira (27/06) FrancePo convida todos seus companheiros a participar da Palestra "Le Rêve Français - Qui est François Hollande - le nouveau Président français, et quelles sont ses idées pour la France et pour le Monde?" ("O sonho francês - Quem é François Hollande - novo presidente francês, e quais são suas idéias para a France e para o Mundo?") que será realizada com o apoio do Unidiomas nas dependências do Unilasalle Canoas - Centro Universitário La Salle Canoas.
Na palestra serão abordadas as seguintes questões:
* Quem é François Hollande, o novo presidente eleito?
* Qual foi o caminho percorrido por ele até chegar ao Palácio do Eliseu?
* Quais são as principais ideias de François Hollande para a França e para o mundo?
* Quais estão sendo os primeiros passos dados por François Hollande e sua equipe?
*Quais desafios para o novo presidente?
Para abordar o tema de uma forma diferente, a palestra será realizada inteiramente em francês e contará com os alunos do curso de língua francesa do Unidiomas para realizar a interpretação e tradução, possibilitando que interessados no assunto que não dominem a língua do país do Hexágono possam participar também!
Depois de 17 anos, um socialista volta ao Palácio do Élysée
Da noite de festa do 6 de
maio a manhã de 7 de maio, a França amanheceu um novo país, na passagem destes
dois dias a França não apenas escolheu um novo presidente, mas um novo destino.
O que esteve em jogo na eleição presidencial de 2012 dividida em dois turnos
equilibrados e muito disputados foi muito maior que a vaga ao qual destinava-se
o pleito. Esteve em jogo, mais do que nunca, o futuro da França, sua escolha
entre conformismo ou desafio; divisão ou conciliação e - em momentos de crise
da dívida, algo que faz muito sentido - austeridade ou crescimento. No momento
em que François Hollande ascende ao topo do Estado Francês, a definição dos
desafios acima torna a transição do conservador Sarkozy ao socialista Hollande
não apenas uma simples alternância de poder mas uma verdadeira mudança, pois
como nos dizia o slogan de François
Hollande « A mudança é agora ».
Eu recebo os resultados
da eleição presidencial francesa de 2012 mais como um grito de esperança que um
grito de desconfiança no presidente Sarkozy. François Hollande conseguiu ao
longo do período entre sua candidatura às primárias socialistas e ia vitória no
último domingo aquilo que nenhum outro socialista francês havia conseguido
desde Mitterrand em 1988: Suscitar a esperança. Certamente a crítica ao saldo
do governo Sarkozy-Fillon passou pelo discurso de Hollande, mas não foi a
desconfiança dos franceses em relação ao agora ex-presidente que fez o
socialista vencer, no entanto, foi a capacidade de suscitar em seu eleitorado
aquilo que ele mesmo chamou de « Rêve
Français », ou seja, o ideal republicano em que é tornado possível a
uma geração viver melhor que a sua predecessora.
Eu recebo o resultado da
eleição presidencial francesa de 2012 como uma chance para a Europa. A crise
européia atual é vista como uma crise da dívida pública, no entanto, antes
disso, a crise européia é uma crise social e política ambas resguardando
relações de causa consequência entre si. Social, pois a Europa vive a crise do
modelo que criou e defendeu, aquele do bem-estar social. Política, pois esta
crise é uma consequência do marasmo da social-democracia européia, que há anos
não consegue traduzir as transformações do Sistema Internacional em reformas
que continuem a deixar competitivo o sistema produtivo europeu e que deem
continuidade ao welfare state como
organização estatal de excelência de igualdade e justiça. A combinação das duas
crises acima é o desemprego em massa das populações europeias e a
desindustrialização contínua do
continente, o que por final emerge um novo risco à democracia e integridade do
bloco da UE: o crescimento da extrema-direita.
Eleito em 06 de maio de
2012, com 51,7% dos votos, François Hollande, do Partido Socialista terá a sua
frente grandes desafios a corresponder e promessas a cumprir. Sabemos de
antemão que caso Hollande venha a falhar em algum dos dois pontos acima, a
social-democracia européia terá perdido a chance que lhe foi conferida no
último domingo de reerguer-se, e o voto contestatório da extrema-direita baterá
a porta dos progressistas. O papel de Hollande na história portanto, transcende
a eleição do último domingo e as fronteiras do Hexágono francês e apresenta-se
– como ele mesmo declarou em seu discurso da vitória em seu reduto eleitoral, a
pequena Tulle – como um alívio, uma esperança à Europa, um ponto final a ideia
de que a austeridade é uma fatalidade.
No último
post, no qual apresentei todos os candidatos a eleição presidencial francesa,
tracei dois prováveis cenários para o voto francês de primeiro turno, eis que
na prática vimos meu primeiro prognóstico ocorrer. Em 2012, os franceses
repetiram a fórmula de 2007. Nada a ver com a vitória de Nicolas Sarkozy no
primeiro turno, visto que passados cinco anos de governo ele perdeu esta
posição para seu desafiante socialista, François Hollande. No entanto, o que
notamos foi que os candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) distanciaram-se
muito de seus desafiantes. Marine Le Pen, Jean-Luc Mélenchon e François Bayrou,
fizeram nesta ordem as posições seguintes do ‘grid de chegada’, como podemos
ver na imagem abaixo.
No entanto,
nem tudo repetiu-se de 2007 a 2012. Primeiro lugar (mas não mais importante), a
primeira posição saiu das mãos da direita e caiu nas mãos da esquerda. Segundo –
e mais notável – o terceiro colocado manteve-se na casa de 18% dos votos, mas
desta vez, a posição não pertenceu aos centristas da MoDem de François Bayrou,
mas aos ultranacionalistas da Front
National sob a liderança de Marine Le Pen. Terceira mudança entre essas
duas eleições está a posição da extrema-esquerda na eleição, detentora de menos
de 2% dos votos em 2012, esse posicionamento está aquém do obtido somente pelo
anticapitalista Olivier Besancenot (NPA) com seus 4% de 2007. O fraco
desempenho da extrema-esquerda não está apenas na mudança de candidato
anticapitalista, mas também pela mudança ocorrida na casa dos trotskystas da Lutte Ouvrière, que confiaram pela
primeira vez sua candidatura a outra pessoa que Arlette Laguiller. Nesta dura
troca, Nathalie Arthaud conquistou pouco mais que 0,5% dos votos.
Quanto às particularidades
de 2012 a mais importante delas foi em relação a votação – pouco expressiva,
aquém das expectativas – de Jean-Luc Mélenchon, cuja candidatura fez muito
barulho e provocou o ressurgimento do Partido Comunista Francês através da Front de Gauche, mas no final não
correspondeu a toda a ambiance gerada
entre seus militantes nas últimas semanas de campanha. Tendo começado a jornada
do 22 de abril com expectativas de tornar-se a terceira força política da
França e criar um domínio paralelo ao Partido Socialista no seio da esquerda
francesa, a Front de Gauche falhou em
sua tarefa ao obter módicos 11,11% (nas sondagens falávamos entre 14%-16%, com
esperanças de romper a barreira dos 18%).
A impressão
que temos ao final do primeiro turno é que a França está a beira de importantes
transformações políticas, sobretudo de sua direita. Dominante desde o final da
2ª Grande Guerra, o Gaullismo havia posto-se como grande força da direita e a
Constituição de 1958 foi apenas o auge de seu domínio que estendeu-se ao menos até
o final da presidência de Georges Pompidou (1974) e tomou um novo ar com a
eleição de Jacques Chirac (1995,2002) e porque não, seu sucessor Nicolas
Sarkozy (2007). O que vemos hoje, é uma disputa dentro da direita, da mesma
forma que o Partido Socialista originado do Congresso de Épinay (1971) batalhou
com o poderoso aliado de Moscou PCF pelo domínio da esquerda francesa, parece-nos
que UMP e FN disputam hoje a direita. De ambos os lados, duas concepções de
direita, mas também dois discursos semelhantes. Para não deixar escapar
eleitores da FN, Sarkozy e sua trupe (encabeçada pelo número 1 da UMP,
Jean-François Copé, pelo primeiro-ministro, François Fillon, e o ministro do
interior, Claude Guéant) tem cada vez mais aderido ao discurso anti-imigrante,
ao mesmo tempo em que, para agregar cada vez mais simpatizantes à sua ideia de
França, Marine Le Pen tem dotado a FN - a qual preside - de um discurso social
inovador (Ver Le Monde Diplomatique
Brasil abril/2012).
Dois dados
estatísticos devem no entanto guardar nossa atenção acerca do resultado da
eleição francesa: primeiro, 1 em cada 3 franceses optou pelos extremos do espectro
político, e segundo, 1 em cada 5 franceses decidiu-se por candidatos que
propunham a saída do euro. A França moderada do respeito e da laicidade, que vê
seu futuro na construção européia, a qual nos habituamos a conhecer nas últimas
décadas está cada vez mais distante, será necessário que o próximo presidente
francês, seja ele, François Hollande ou um Nicolas Sarkozy 2.0, escute esses
eleitores.
Em uma semana
será realizado o primeiro turno das eleições presidenciais francesas, desta
forma FrancePo apresenta os candidatos que pretendem assumir o
Élysée, que já foi ocupado outrora por grandes nomes como Charles de Gaulle,
Pierre Mendès France e François Mitterrand, pontos de vista sobre as questões
mais importantes acerca da eleição e as últimas sondagens.
2012, quem são os candidatos?
Na sequência você poderá conhecer
os candidatos a eleição presidencial francesa, em suma eles se separam
claramente em duas famílias, a esquerda com seus representantes, François Hollande (PS), Jean-Luc Mélenchon
(Front de Gauche), Eva Joly
(Europe-Écologie Les Verts), Nathalie Artahud (Lutte Ouvrière), Philippe Poutou (Nouveau Parti Anticapitaliste) e Jacques Cheminade (Soldarité et progrès) e a direita
com o atual presidente francês que tentará sua reeleição, Nicolas Sarkozy (UMP), além de Nicolas
Dupont-Aignan (Debout la Répúblique) e
Marine Le Pen (FN). Ora
encontrando-se a direita, ora a esquerda, teremos mais uma vez a presença
centrista de François Bayrou (MoDem) na
campanha presidencial.
Para validar a
candidatura cada pretendente a presidência precisou recolher 500 parrainages, ou seja, 500 assinaturas de
prefeitos franceses para validar a candidatura. Um dos temas mais importantes
até o momento da validação das candidaturas (19 de março) era se Marine Le Penconseguiria todas as assinaturas, dado que seu partido, a Front
National não é muito difundido pela França, mesmo assim ela conseguiu e
até mesmo o controverso Jacques
Cheminade as conseguiu.
Candidatos da Esquerda
FRANÇOIS HOLLANDE (PS – PARTI SOCIALISTE) – François Hollande
esteve a frente do Partido Socialista no momento mais difícil de sua história
desde o Congresso de Epinay (1971) quando o partido refundou-se. Hollande
tornou-se primeiro-secretário do partido logo após a dura derrota de 21 abril
2002, quando os socialistas não conseguem sequer alcançar o segundo turno,
ainda que seu candidato fosse o primeiro-ministro da época, Lionel Jospin, e mesmo
com esse cenário conduziu o PS a vitórias memoráveis em eleições cantonais e
regionais, recolocando o PS como a grande força da esquerda e a alternativa de
poder mais viável à UMP (na época havia o risco de perder o posto ou para a
extrema-direita ou para os centristas de François Bayrou). Tendo deixado o
cargo de primeiro-secretário do PS em 2008, François Hollande continuou seu
percurso como deputado pela Corrèze
e presidente do conselho geral desse departamento.
François
Hollande será candidato socialista em um momento muito especial do PS: pela
primeira vez o candidato socialista é indicado através de um processo de primárias aberto tanto à seus militante
(o que já tinha sido o caso em 2006, na disputa entre Ségolène Royal, Dominique
Strauss-Kahn e Laurent Fabius) como também à comunidade francesa em geral, aos
estrangeiros que a integram e aos franceses do além-mar e expatriados. Não, que
Hollande não tenha boas propostas, um discurso inovador e tenha suscitado a
esperança nos franceses, mas caso a sua vitória sua vitória se confirme, ela
será dada primeiramente pelo élan
fornecido pelas primárias. O impulso dado pelas primárias é tamanho que na
sequência das primárias o candidato socialista alcançou 35% das intenções de
voto nas sondagens, valor sem validade prática mas grande mostra do sucesso das
primárias. Outro ponto positivo fruto do processos de primárias é a unidade da
máquina partidária em torno de seu candidato: sabe-se que em 1995 quando da sucessão
do socialista François Mitterrand,
militantes e responsáveis políticos não concordavam com a candidatura de Lionel
Jospin, ambos dividiam-se em diversas alas, uma das mais fortes a do
ex-ministro de Mitterrand e um dos arquitetos econômicos da Europa Moderna,
Jacques Delors, que não alimentava pretensões presidenciais. Novamente em 2002,
Jospin era contestado. Novamente uma derrota. Em 2007 o Partido Socialista
encontrava-se tão dividido em brigas internas que Ségolène foi candidata sem
mesmo o apoio da presidência do partido, que pasme, era feita por seu marido,
François Hollande (ele também com pretensões presidenciais à época, frustradas
pelo avanço de sua mulher). Resultados nas últimas três eleições: três derrotas
com um grande abismo da direita gaullista e 17 anos sem um presidente socialista.
As primárias no entanto, acabaram com este problema, François Hollande é hoje
um candidato legítimo, apoiado pela máquina partidária e pelos militantes,
talvez até mais que François Mitterrand o tenha sido em 1981 (ano de sua
vitória). Através das primárias também, os socialistas conseguiram o apoio
importante do partido de centro-esquerda de apelo popular, Parti Radical de Gauche (Partido Radical de Esquerda, sobre o qual
já falamos aqui), muito bem estabelecido na França do além-mar (Martinica,
Reunião, Guiana Francesa,...)
Para
conseguir agregar o maior número de eleitores possíveis, desde militantes do
centro como da esquerda, ou até mesmo da direita humanista chocados com as
políticas empreendidas por Sarkozy (como a sua ex-ministra do meio ambiente, Corinne
Lapage, que declarou apoio a Hollande), François Hollande guiou sua campanha
pelo que ele chamou de Rêve Français, o sonho francês, ou
ainda a versão tricolor do American Way
of Life, fator de admiração interna e externa. Mais do que isso, o Rêve Français é para Hollande a condição
de vitória da França, ou seja, ele é a capacidade de uma geração viver melhor
que a sua predecessora. Para restaurar o essa condição, Hollande deseja reduzir
o déficit público para 3% do PIB até 2013, criar 60 000 empregos na educação
(os quais Sarkozy vem sucessivamente enxugando), criar um banco de investimento
público para acelerar o desenvolvimento das comunas e departamentos, empreender
uma segunda fase de descentralização, permitir a aposentadoria a 60 anos para
aqueles que já tenham 41 anos, instaurar o contrato de geração (Contrat
de Génération) no qual a empresa não pagará as cotizações de ambos trabalhadores
se manter um sênior até sua aposentadoria ao lado de um jovem de menos de 30
anos, acelerar a construção de residências populares, reformar o Conselho de
Segurança da ONU – inserindo uma nação africana, a Alemanha e nações em
desenvolvimento, aí entram Índia e Brasil, reduzir a remuneração do presidente
em 30%, reformar seu estatuto penal, revisar todas as negociações da União Européia
em torno da recuperação dos países atingidos pela crise e diminuir a
dependência da França em torno da energia nuclear, reduzindo sua participação
na matriz energética de 75% para 50% até 2025.
Por
final, como acreditar que depois de três tentativas fracassadas será a vez dos
socialistas retomarem o Élysée?
Simples, François Hollande não apenas inaugurou uma nova era no seio do Partido
Socialista, afirmando-se sim como Socialista, mas também como Reformista e com
grande responsabilidade econômica (por isso de suas propostas de diminuir o
déficit público, que não constam em nenhum programa das outras candidaturas de
esquerda), como também contará com dois fatores essenciais que nem Lionel
Jospin nem Ségolène Royal contaram e que em muito responderam às suas derrotas:
a unidade do partido e a confiança dos militantes. Que voltem os Socialistas!
JEAN-LUC MÉLENCHON (FRONT DE GAUCHE/PCF-PG) – Ele é a grande
surpresa da eleição. Socialista desafeto, Jean-Luc Mélenchon abandonou o PS em
um dos momentos mais conturbados do partido, o Congresso de Reims (2008), que
marcou o final da presidência de François Hollande no partido e a eleição da
atual primeira-secretária, Martine Aubry. Mélenchon sempre se considerou à
esquerda da esquerda do PS e após a eleição presidencial de 2007, na qual Ségolène Royal propôs uma união com o
candidato centrista, François Bayrou, derrotado no primeiro turno, percebeu que
não teria mais espaço no partido. Pesou para sua saída do PS o fato de que em
2008 na última escolha do primeiro-secretário do partido 80% dos votos se
dirigiram a candidatos que foram a favor do ‘Sim’ na eleição do Referendo
Europeu para uma Constituição Europeia de 2005 (na qual Mélenchon defendeu o
‘Não’, como a maioria dos franceses o votaria em maio/2005) e da aliança com os
centristas do MoDem para bater
Sarkozy no segundo turno em 2007.
Fundador
do Parti
de Gauche(Partido de
Esquerda), inspirado no seu homólogo alemão Die Linke, Jean-Luc
Mélenchon logo se entendeu com os comunistas do tradicional PCF que viam seu
eleitorado minguar eleição após eleição e formaram a Front de Gauche(Frente de esquerda) que teria como
dever formar uma aliança baseada nas tradições das lutas operárias, sindicais e
de movimentos sociais. Representando de uma parte o antiliberalismo, de outra o
altermondismo e ainda a ecologia política. Para a eleição presidencial de 2012,
Jean-Luc Mélenchon as principais propostas do candidato esquerdista são o
aumento do SMIC (Salário mínimo
interprofissional) bruto para € 1700 (o atual é de € 1398) acrescentando dois
euros para cada hora trabalhada, a criação de um salário máximo, diferença máxima
de 20 vezes entre a maior e a menor remuneração nas empresas e por final, o
salário mínimo não poderá ser menor do que 20 vezes a remuneração média
nacional (€360 000/ano), não permitindo assim que nenhuma família francesa viva
abaixo da linha da pobreza, sendo que hoje 8 milhões de franceses são
considerados pobres. Desta forma, Mélenchon incita seus eleitores a tomar o
poder como indica seu slogan oficial Prenez
le Pouvoir, as chances de sua aparição no segundo turno não podem ser
negligenciadas, mas ao momento, segundo as sondagens, seu maior desafio tende a
lutar pela terceira posição contra a candidata da extrema-direita, Marine Le
Pen. Ao momento parece também que os votos contestatórios correm as fileiras
destes dois candidatos, independente de sua embalagem altermondista (Mélenchon)
ou pela pátria (Le Pen).
A
campanha de Mélenchon foi levada à esquerda da esquerda francesa (PS) e segundo
algumas vozes críticas, JLM é uma espécie de neo-bolchevique francês, o que
fortalece o medo do eleitorado centrista e direitista no caso de sua ida ao
segundo turno. Pesa contra Mélenchon as suas posições incertas em relação a
Cuba e a China, as quais ele não se julga a altura para poder chamar de
ditaduras. Além disso, forte combatente da elite francesa e do Partido
Socialista, o qual ele julga ‘amigo da burguesia’ Mélenchon tem um patrimônio
alto: 760 000 euros. Demasiado esquerdista, Mélenchon é um Hugo Chávez ou Lula
(antes de chegar ao poder) à francesa, mesmo antes de chegar ao poder no
entanto, já conhecemos seus problemas: patrimônio demasiado excessivo, luxos
excessivos à um esquerdista, etc. Na América Latina conhecemos bem onde o
radicalismo de esquerda foi capaz de nos levar, na Venezuela a absurdas faltas
de mantimentos e no Brasil a um liberalismo, mais do que jamais, brutal. Resta
saber se os franceses estão preparados para uma experiência radical ou se
preferirão continuar fiéis a François Hollande e ao moderado Partido
Socialista, numa época em que a extrema-direita ameaça, é preciso ser capaz de
unir, agrega eleitores. Será Jean-Luc Mélenchon capaz? Guardo minhas reservas.
EVA JOLY (EELV – EUROPE ÉCOLOGIE LES VERTS) – Assim como seu
adversário dentro da esquerda (sobretudo da esquerda moderada) François
Hollande, Eva Joly também foi nomeada candidata por seu partido através de um
processo de primárias, nas quais Eva venceu o carismático apresentador de
televisão e ecologista Nicolas Hulot.
A
principal medida de Eva Joly será fazer a França sair do nuclear até 2032,
diminuindo sua dependência de energia nuclear de 75% a 40% já em 2020. Ainda
articulada a ecologia, outra medida de Eva Joly é a criação de 600 000 empregos
ligados à ecologia, sendo portanto, o slogan da candidata verde: ‘Ecologia, a verdadeira mudança’. Em uma
primitiva cutucada no slogan de François Hollande ‘A mudança é agora’.
Após
o sucesso dos ecologistas sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit (O Dani le Rouge do maio de 68) nas eleições
para o Parlamento Europeu, Eva Joly tem o desafio de estabelecer o ecologismo
como uma força política na França, assim como ocorre na Alemanha. No entanto,
após começar bem creditada de 11% dos votos, a campanha dos verdes desandou e
agora Eva Joly não consegue passar a barreira de 4% das intenções de voto –
ficando entre 2 e 3%. Além da polêmica em torno da saída do nuclear, Eva Joly
sempre teve de enfrentar o fato de que não era francesa de origem (algo muito
explorado pela direita) e sobretudo, sua proposta de retirar o desfile militar
da festa da Queda da Bastilha de 14 de Julho, substituindo-o por uma parada de
civis. Se é que os verdes conseguirão, parece que o acordo assinado com o PS
dando-lhes uma bancada na Assembléia Nacional será mais importante do que a
candidatura de Eva Joly para lhes firmarem como uma força na política francesa.
NATHALIE ARTHAUD (LUTTE OUVRIÈRE) – A Luta Operária é um partido
político francês de orientação trotskysta desenvolvido sobretudo em meio do
operariado francês sindicalizado. Mesmo que pequeno e fragilmente organizado a
nível nacional, o partido conseguiu obter interessantes votações nas últimas
eleições presidenciais. Montado a imagem de Arlette Laguiller sua grande líder
o partido passará por um de seus maiores desafios : existe vida fora
Laguiller ? Em um primeiro momento exagerada a pergunta, se a confrontarmos
com o histórico do partido nas eleições presidenciais das últimas décadas ela
faz total sentido.
Arlette Laguiller é
a pessoa que mais vezes disputou a eleição presidencial francesa, até mesmo
mais vezes que François Mitterrand! Arlette foi candidata nas eleições de 1974,
1981, 1988, 1995, 2002 e 2007. Aí se vão 6 eleições e 33 anos na função e
consideráveis resultados como 2,3% em 1974 (mesmo com a união da esquerda em
torno de Mitterrand), 5,30% em 1995 e 5,72% em 2002 (a frente de Robert Hue, do
poderoso PCF). Tamanha presença de Arlette Laguiller na história política
recente justifica a preocupação em torno da nova geração que toma as rédeas da
Luta Operária. Para solucionar este problema, escolheu-se Nathalie Arthaud, que
dentre outras competências é fisicamente muito parecida com Laguiller. Dentre
as principais medidas da candidata da Luta Operária está a supressão da TVA
sobre todos produtos e serviços, a nacionalização de todas as empresas que
desejarem expatriarem-se e a unificação de todos os bancos em um único banco
controlado pelo Estado. O slogan da campanha de Nathalie Arthaud é: “Os
trabalhadores não devem pagar pelas crises do capitalismo”
Nathalie Arthaud (dir): Na Lutte Ouvrière não bastam boas ideias é preciso pois ser parecido com Arlette Laguiler (esq)
PHILIPPE POUTOU (NPA – NOUVEAU PARTI ANTICAPITALISTE) – O NPA é o
representante francês de nosso PSOL, ou seja, um radical aos radicais, seu
principal projeto político é a instauração de um Estado Social e a superação do
capitalismo. Na última eleição Olivier Besancenot conquistou 4% dos votos no
primeiro turno, no usual efeito francês do sucesso da extrema-esquerda à luz do
primeiro turno, fenômeno o qual falaremos em uma abordagem futura, na sequência
ele criou o NPA, no entanto o partido, assim como seu coirmão brasileiro, tem
dificuldades em se impor como um partido de poder mais do que um partido de
contestação. Nas eleições de 2012 o candidato anticapitalista será Philippe
Poutou, operador de máquinas-ferramentas em uma usina Ford em Blanquefort, na
Gironde (sudoeste francês, departamento onde se localiza Bordeaux),
apresentando-se como um cidadão comum, não originado das classes políticas, Poutou
espera engajar os franceses que se sentem cada vez mais distantes da classe
política e das classes dirigentes de sua sociedade.
As
propostas de Poutou encontram-se na alma daquilo que podemos considerar uma
esquerda radical e anticapilista, ao exemplo do PSOL como temos visto nas duas
últimas eleições no Brasil. Para o mundo do trabalho, Poutou compra uma das
maiores brigas da política francesa, a jornada de 35 horas semanais,
instauradas pelos socialistas do pS no governo Jospin na transição dos anos 90
ao 2000. Além de defender o respeito às 35 horas, o candidato anticapitalista
vai além e propõe uma segunda redução, de 35 horas, a jornada de trabalho
semanal francesa passaria à 32 horas, sem nenhuma redução salarial, ou ainda um
aumento imediato de cerca de 300 euros ao SMIC bruto. Face a crise da zona do
euro, a proposta anticapitalista corre no sentido da anulação da dívida
pública, concretizando o slogan do NPA para esta campanha: “Aos capitalistas de
pagarem suas dívidas”. Compõe também a saída da crise, o monopólio público
sobre o crédito e a criação de 1 milhão de empregos públicos. Em relação a
outro tema sensível ao eleitorado francês, a energia nuclear, Poutou defende
uma saída imediata do nuclear, o investimento em energias renováveis e o
controle público sobre sua criação e administração. Não causando suficiente
impacto, Poutou ainda defende o retorno a aposentadoria aos 60 anos, conforme
os socialistas do PS o fizeram há alguns anos atrás e continuam a defendê-la.
No entanto, contra Poutou corre a
surpreendente campanha de Jean-Luc Mélenchon que se apresenta como catalisador
dos descontentes com as políticas propostas por Sarkozy e Hollande e também a
divisão interna de seu partido, sendo que grandes responsáveis políticas do NPA
declararam seu voto em Mélenchon e fazem campanha ao esquerdista. Assim, Poutou
já declarou que esta será sua última campanha, sem a presença de Besancenot, o
NPA demonstrou-se frágil e sedento a uma figura mais firme e carismática.
Parece que Poutou prefere voltar a sua vida de operário sob as engrenagens
destruidores do capitalismo a lutar no jogo parlamentar e político para
derrubá-lo, outra evidência da sujeira da política francesa? Esperemos as
memórias de Poutou.
JACQUES CHEMINADE – Na maior parte do tempo, não é ao inventor de
determinada tecnologia, descoberta ou postulado que recaem as glórias e a
admiração. Apenas para revisar, não é hoje mais a Ford de Henry Ford que detém
o domínio do mercado automobilístico nem mais a Sony dos walkman que domina o mercado de tocadores de músicas. O mesmo
ocorre com o controverso homem político francês, Jacques Cheminade, herdeiro
direto da tradição do sindicalismo político francês que confunde por vezes
direita e esquerda mas se diz sempre à esquerda que em sua propaganda oficial
de candidatura apresenta-se como o primeiro político francês a prever uma crise econômica iminente que
atormentaria o sistema capitalista internacional e em passos sucessivos o
destruiria. Isso foi em 1995 e a suposta crise prevista por Cheminade seria
esta que estamos experimentando agora (os europeus ainda mais que nós
brasileiros). Como contraargumento a Cheminade vale dizer que quem está pagando
o preço desta crise são muito mais as classes populares que o sistema
capitalista que é sistematicamente protegido por governos nacionais tanto de
esquerda como direita, e neste sentido ponto para Jean-Luc Mélenchon e François
Hollande que deixam claro este ponto. O vazio de suas propostas e o ápice de
seus dilemas internos encontra-se em sua proposta phare (aquele que é tida como principal), que prevê a separação das
atividades bancários em depósito, crédito e popança como fez a Inglaterra do
direitista David Cameron, para proteger estas atividades, que estão aos
serviços dos cidadãos, e relegar à sorte do mercado as atividades de
especulação, grande mal do capitalismo, um lugar comum de Cheminade para roubar
votos da já implantada esquerda radical francesa (ver Poutou e Arthaud). Para
marcar 1995, o argentino Jacques Cheminade candidatou-se a eleição francesa
pelo Partido Operário Europeu (uma tentativa da época de se firmar como
movimento de ação anticapitalista de orientação operária no jogo parlamentar da
União Europeia) e obteve menos de 85 mil votos (0,28% dos votos). Dono de
dilemas ímpares como seu anticapitalismo mesclado a sua origem em uma família
de um cadre (profissional alto ou
mediano com funções administrativas em uma empresa privada) francês em missão
na argentina por uma multinacional francesa e seu relacionamento conturbado com
os trabalhistas norte-americanos, relação que lhe rendeu uma ficha no FBI,
Cheminade é um candidato um tanto quanto vazio e à luz de adversários dentro da
esquerda radical como Mélenchon. Tendo sido ou não o primeiro homem político a
francesa a denunciar em 1995 a crise iminente do sistema capitalista
internacional, Jacques Cheminade tenderá a ser aquele nome que passe
despercebido aos olhos da comunicação midiática francesa. Em 2012, o mais
provável é que ele repita seu resultado em 1995 ou ainda a média obtida por
partidos sindicais nas últimas eleições. No entanto seu fraco desempenho será
mais fruto de seus dilemas internos e da convivência suspeita com trabalhistas
americanos do que propriamente a forte concorrência no seio da esquerda.
Ficha do candidato Jacques Cheminade no FBI
Candidatos da Direita
NICOLAS SARKOZY (UMP – UNION POUR UN MOUVEMENT POPULAIRE) – Chefe
do executivo francês desde 2007, Nicolas Sarkozy buscará em abril mais cinco
anos no Élysée ao lado da bela primeira-dama francesa, Carla Bruni. Não é por acaso que falo em Carla Bruni, pois fora a
bela primeira-dama francesa não restam muitos pontos a favor do presidente
francês. Certamente, a França não é nenhuma Grécia, Espanha ou Portugal, e
Sarkozy sabe disso. No entanto, a França também não é a Alemanha e face a crise
financeira de 2008 e a atual crise da zona do euro a França sofreu muito mais
que a seu vizinho germânico. Mais do que nunca, a máxima de que a França é o
país dos vinhos, da alta costura e dos perfumes e a Alemanha a grande fábrica
da Europa, onde são trabalhadas tecnologias de ponta, automóveis sofisticados e
as mais diversas manufaturas europeias que encontram mercado em todo o mundo,
está valendo. A França, mais do que a Alemanha, está de joelhos diante da
finança e da crise, sua frágil indústria desloca-se dia e noite em direção ao
estrangeiro (sobretudo à Tunísia e outros países maghrebinos que não apresentam
nenhuma especialização técnica ou científica, mas em contra-partida, nenhuma
atividade sindical organizada e salários baixíssimos. Além é claro dela, a
China), é só olhar em sua mais recente roupa da marca do jacaré, que você verá Fabriqué au Perou, Fabriqué en Chine, etc.
A indústria francesa é por sua vez um retrato fiel de seu presidente, focada em
marcas de luxo, e portanto nichos de mercado, ela não é competitiva, salvo
quando produzida no antigo terceiro-mundo, a indústria francesa é tão
bling-bling quanto o próprio Sarkozy. No entanto, é preciso lembrar que não
apenas de Hermes, Louis Vitton ou Dior vive a indústria francesa. A França é
uma grande república de tradição industrial, a França é o lar dos mineiros do
nordeste, dos comerciantes de aço e carvão, de grandes indústrias
automobilísticas como PSA Peugeot-Citroën e Renault, das grandes indústrias
químicas e farmacêuticas, de líderes na indústria nuclear civil, da construção
naval, ferroviária, metroviária, com exemplos tão tecnológicos como dos seus
vizinhos do outro lado do Rio Reno, como a construtora de aeronaves de
Toulouse, Airbus ou dos pneus de Clermont-Ferrand da Michelin. Porém isso –
tudo isso – passa despercebido de Sarkozy. A França de Sarkozy é aquele que
esqueceu sua tradição industrial e as classes populares. Mas não apenas a
tradição industrial foi esquecida, a Republicana também. Os imigrantes são cada
vez mais estigmatizados com as circulares do Ministro do Interior chefiado por Claude Guéant, são estudantes
estrangeiros que são mal acolhidos e vistos como adversários dos franceses no
mercado de trabalho, famílias relegadas a formar uma sociedade paralela à dos
franceses, vivendo em subúrbios sem a menor condição de habitação e também
cidadãos impedidos de praticarem seu culto religioso livremente.
Em
2007 Sarkozy apresentou-se como o candidato da ruptura. Cinco anos mais tardes
não sobra nada além de promessas não compridas e engajamentos esquecidos.
Faz-se necessário recuperar alguns dados (que já haviam sido mostrados por aqui
anteriormente) do balanço de cinco anos de Sarkozy :
Para
afastar as bruxas de um tal balanço, Sarkozy se esforçou para comprovar que se
houve alguma promessa que ele negligenciou, deu-se em função da crise mundial e
em seguida europeia que assolou a França. Inteiramente vítima das
circunstâncias, Sarkozy empreendeu uma campanha que associada ao fato anterior
defende que se ainda há alguma risco de quebra da França esse se dá pela
presença dos socialistas na política francesa e sobretudo, da lei das 35 horas semanais, as famosas Leis Aubry que instauraram esse regime
da duração de trabalho para diversas classes profissionais em substituição as
antigas 39 horas semanais (conquista de outro governo socialista, a da Front Populaire de Leon Blum, em 1936).
O resultado desse direcionamento de campanha foi uma conquista do eleitorado
standard da UMP, sem possibilidades de aventurar-se sobre outros eleitorados,
como os centristas, os eleitores Le Pen (ainda das tentativas orientadas pelas
políticas acerca da imigração e segurança pública de seu ministro braço
direito, Claude Guéant) ou até mesmo
fortuitos socialistas, e de dessa forma que Sarkozy cava o próprio buraco.
O maior
desafio de Sarkozy será fazer o eleitorado entender que ele somente não compriu
as promessas dele da última campanha em função da crise econômica. E mais uma
vez, uma externalidade poderá justificar a continuação de um governo ruim.
NICOLAS DUPONT-AIGNAN (DEBOUT LA RÉPUBLIQUE) – Ele já foi visto
como menina dos olhos da UMP até deixá-la, hoje Dupont-Aignan sente o peso de
todo o Estado UMP e a SarkoFrança sobre suas costas, uma medida clara da força
deste jovem candidato que mesmo sendo de direita coloca-se como oposição à
Sarkozy.
Em
um país onde a direita já se vê minada tanto pela esquerda quanto pela
extrema-direita, seria o mais comum ver Dupont-Aignan de mãos dadas com Sarkozy
para garantir-lhe um segundo mandato ou evitar o mal maior que seria uma
vitória Socialista como as sondagens anunciam. Mas nada disso faz eco à Nicolas
Dupont-Aignan, candidato jovem da direita soberana que dentre outras diferenças
rompe com Sarkozy em função de sua complacência com a integração européia (uma
ideia notadamente de esquerda). Longe de pertencer a extrema-direita,
Dupont-Aignan defende uma França soberana, com moeda própria e constituição
independente da Europa. Defendendo a volta do franco, Dupont-Aignan não alcança
que 1,5% nas sondagens mais favoráveis à ele, em mais uma prova de que a
Alemanha não é a França, acredita-se que em solo germânico o candidato que
defender a volta do marco (moeda nacional alemã) partiria com 20% das intenções
de voto, cenário que não se verifica na França. Ao curso da jornada eleitoral
de 22 de abril, iremos concluir que a força política de Nicolas Dupont-Aignan
de fato não terá sido verificada nas urnas, mas é bom não esquecer tão cedo seu
nome. Jovem, Dupont-Aignan ainda tem um longo caminho na política francesa.
MARINE LE PEN (FN – FRONT NATIONAL) – A extrema direita francesa
reclama a ela valores oriundos da democracia católica francesa, dos
bonapartistas, do nacionalismo francês do século XX e dos anti-dreyfusard, formando por final uma grande embalagem patriótica
pára a qual a imigração é a resposta
e a causa de todos os problemas franceses. O ponto mais alto da extrema-direita
francesa foi em 2002 quando com seu fundador Jean-Marie Le Pern chegou ao
segundo turno e fez ser conhecida sua voz em toda o Mundo. Rompendo com esta
extrema-direita, ao menos no plano midiático, Marine Le Pen tornou-se a
candidata preferida dos jovens e dos operários, campos até então de domínio da
esquerda e quando não do PS, do Partido Comunista. A candidata da
extrema-direita de hoje não assemelha-se com seu pai, primeiro, pois o seu
eleitor não é mais aquele oriundo do nacionalismo ou da direita bonapartista ou
gaullista, o eleitor de Marine Le Pen é o mesmo que já votou na esquerda, seja
na moderada socialista e discorda dos rumos desta, defensora do direito de
imigrantes, da supressão de barreiras para a imigração, ou até mesmo da esquerda
radical, com a qual compartilha o ódio em relação as classes dirigentes.
Nacionalista
mas também populista, o discurso de Marine Le Pen foi feito especialmente para
ser recebido pelas classes populares. Partindo de sua indignação e denúncia ao sistema
UMP-PS (aspecto compartilhado com outras candidaturas de protesto, todas de
esquerda radical), Marine põe na Europa os problemas econômicos, sociais e
demográficos da França (vale lembrar que os pilares da Europa e sua construção
se deu sobretudo durante a presidência socialista de François Mitterrand), ele
deseja assim romper com o Tratado de Schengen e abolir qualquer tratado de
constituição comum ou políticas comuns, Marine é portanto como dizemos na política
francesa, uma soberanista (souverainiste),
prefere a França a frente da Europa (ao contrário dos grandes partidos UMP e
PS, mas também da orientação de Jean-Luc Mélenchon). As propostas de Marine são
em sua maioria populistas, em meio a uma campanha séria, ela fez da dificuldade
dos jovens em obterem sua carteira de motorista (permis de conduire) uma dura crítica a Sarkozy, ou ainda faz da
redução do preso da gasolina uma de suas principais medidas econômicas.
As mudanças na
extrema-direita foram tantas que até em Marselha, cidade marcada pela
influência maghrebiana e com grande presença de imigrantes, a FN está se
estabelecendo, sendo Marine Le Pen a opção de diversos devotos do islão ! Não
escapam no entanto a Marine Le Pen, algumas contradições, uma delas em relação
a defesa nacional: ao mesmo tempo que Marine comemora o não envolvimento da
França em guerras internacionais e critica o presidente Sarkozy pelas operações
francesas em conjunto com a OTAN (com a qual ela pretende romper) na Líbia, ela
deseja aumentar os gastos da França com defesa nacional (em meio a crise e a
perda de diversos direitos sociais, diga-se), elevando-os à 2% do PIB e
construindo um novo porta aviões. Inevitável pergunta: por que aumentar os
gastos militares se há o desejo do não envolvimento em guerras nem a emergência
de nenhuma potência vizinha que possa configurar o famoso dilema da segurança?
E como sempre ... o pretendido centrismo de Bayrou
FRANÇOIS BAYROU (MODEM – MOUVEMENT DÉMOCRATE) – Candidato em 2002 e
2007, Bayrou vai a sua terceira tentativa de eleger-se Presidente da República
Francesa. Se em 2002 correu contra Bayrou a clivagem dos franceses à esquerda
(com candidaturas de Jospin, Laguiller, Chevènement, Mamère e Besancenot,
dentre outros) e também a força da extrema-direita que chegou pela primeira vez
ao 2° turno, em 2007 o candidato centrista apareceu como a saída ao sistema
UMP-PS como os franceses gostam de falar, ou seja, em 2007 ele era o candidato
melhor posicionado a bater tanto a UMP como o PS (muitos franceses acreditam
que ambos, apesar de defenderem bandeiras diferentes, um à direita e outro à
esquerda do espectro político, seguiram políticas semelhantes em seus governos
e são os responsáveis do impasse da França) sem cair na ameaça da extrema-direita
ou recorrer a um candidato da esquerda revolucionário (mais uma vez nesta
eleição representados por Besancenot e Arguiller). A boa posição lhe valeu um
terceiro lugar e bons 18,57% dos votos (os quais seriam cotisados mais tarde
tanto por Nicolas Sarkozy quanto pela socialista Ségolène Royal, o que como
vimos antes configurou um choque na unidade do PS) e sobretudo a validação para
uma terceira tentativa de vencer a presidência.
Para completar
o cenário favorável em torno de François Bayrou pesa que segundo sondagens, ele
é a figura política favorita dos franceses, sondagens nas quais Sarkozy patina
e Hollande é barrado tanto à sua esquerda como à sua direita, mas é bem
recebido pelos centristas. Com diversos pontos a favor, ou atouts como diriam os franceses, somado a um balanço de governo
negativo para Sarkozy e uma descrença cada vez maior dos franceses em relação
aos socialistas (personificada na teoria que o PS depois de Mitterrand e Delors
nunca teria um bom nome para brigar a presidência e portanto seria relegado às
eleições cantonais e regionais, nas quais é o primeiro partido francês há
anos), 2012 mostrava-se como o ano de Bayrou. Mas nem tudo foi assim. Começando
por Sarkozy : nos últimos meses o presidente francês voltou a ser bem
visto pelos franceses, em parte os pertencentes à direita (fato garantido pela
aderência de diversos pré-candidatos de direita à companha de Sarkozy,
notadamente o também centrista Jean-Louis Boorlo e a líder dos católicos
democratas de direita, Christine Boutin) e os despolitizados. No PS, o pós
primárias garantiu a legitimidade necessária ao seu candidato (fator nunca
obtido por nenhum candidato desde Mitterrand) e devolveu ao partido a confiança
e o entusiasmo de seus militantes (abalados após o Abril de 2002 quando
perderam para a extrema direita a segunda vaga ao turno decisivo da eleição).
Mas nem o état de grâce de Hollande
ou o relativo crescimento de Sarkozy são aos maiores ameaças para Bayrou em
2012. As ameaças encontram-se nos extremos do espectro político.
Defrontados
à uma crise mais forte que nunca, uma desindustrialização mais rápida que nunca
e um sistema bancário em risco, em 2012 os franceses tendem a optar pelos
extremos, independente de estarem à esquerda ou direita pois uma vez à luz da
confrontação de ideias eles não se diferenciam muito (à exceção de assuntos
caros à esquerda e oportunidades de diferenciação da esquerda, como a imigração
e o islã). Comprovação disso é a clivagem de Sarkozy a direita (aproximando-se
da FN em um esforço de tentar conquistar seus eleitores) e de Hollande à
esquerda (tentando recuperar a euforia dos anos Mitterrand), mas sobretudo a
disputa entre Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon pelo terceirolugar, outrora
pertencente à Bayrou.
Como é natural
ao ideal centrista, a falta de clareza sobre as posições de Bayrou, em um
momento de crise poderá ser definitivo à sua derrocada política e ao
esfalecimento da MoDem como proposta
à hegemonia UMP-PS. Mas como é comum na história francesa as sondagens
mostrarem resultados longe dos aferidos na contagem de votos, esperemos o 22 de
abril para mensurar o peso do centrismo e o real efeito da boa imagem de Bayrou
em meio ao eleitorado francês. Ao que me parece, François Bayrou não verá uma
quarta campanha.
SONDAGENS
Instituto IPSOS - 10 Abril/2012
Intenções de voto no primeiro turno da eleição presidencial - IPSOS/10 abril
Evolução das intenções de voto no primeiro turno - IPSOS/10 Abril
Intenções de voto no segundo turno da eleição presidencial - IPSOS/10 Abril
Evolução das intenções de voto no segundo turno - IPSOS/10 Abril
Relação dos votos do primeiro e segundo turno dos outros candidatos - IPSOS/10 Abril
Instituto CSA - 23/Abril 2012
Intenções de voto no primeiro turno - CSA/23 Abril
Evolução das intenções de voto no primeiro turno - CSA/23 Abril
Distribuição das forças políticas no primeiro turno - CSA/23 Abril
Intenções de voto no segundo turno da eleição presidencial - CSA/23 Abril
Evolução das intenções de voto no segundo turno com eventos - CSA/23 Abril
Razões do voto. Em azul se vota em deteminado candidato por desejar sua eleição, em vermelha se vota para vencer seu adversário - CSA/23 Abril
CONCLUSÃO
Marcado para o próximo domingo o Primeiro Turno da Eleição Presidencial francesa continua aberto e como diria em francês, rien n’est joué. Se analisarmos as sondagens, muita coisa mudou nos resultados que nos foram apresentados : à sequência das primárias do PS, a investitura de François Hollande alcançou 35% das intenções de voto, em seguida entrou em processo contínuo de queda, foi ultrapassada pela de Nicolas Sarkozy, mas nos últimos dias retomou a progressão e aparece com médias entre 26-29%, alternando-se na primeira ou segunda colocação, a frente ou atrás de Sarkozy. O terceiro lugar já viu várias disputas, houve a época em que Sarkozy e Marine Le Pen brigavam pelo segundo lugar, em seguida o crescimento de François Bayrou nas pesquisas e sua emergência pela terceiro posto. Nestes dois momentos Marine Le Pen manteve-se em terceiro lugar, no entanto o cenário atual não garante esta posição a número um da FN, há algumas semanas já temos visto o grande avanço de Jean-Luc Mélenchon e a briga dos dois candidatos dos extremos recolhendo ambos entre 15 e 19% das intenções de votos.
Neste plano de muito disputa, eu vejo dois possíveis cenários para a noite de 22 de abril, são eles :
1) Uma repetição de 2007 na qual os dois candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) terão seus candidatos com considerável vantagem sobre os demais. À época, François Bayrou – terceiro colocado – somou 18,5% - dos votos, longe dos 31% de Nicolas Sarkozy e 26% de Ségolène Royal. E o cenário que as sondagens atuais nos mostram para 2012.
2) Um retorno de dez anos na linha de tempo, direto a fatídica noite do 21 de abril de 2002, na qual nenhum candidato conseguiu despontar e impôr plenamente sua candidatura, isto que tanto o presidente, Jacques Chirac (RPR, antiga UMP), como o primeiro ministro, Lionel Jospin (PS), candidataram-se. Na ocasião a diferença entre o segundo (Jean-Marie Le Pen) e terceiro colocado (Lionel Jospin) não foi maior que 200 000 votos, seja 0,7% dos votos. É este o cenário que os candidatos de contestação – Marine Le Pen (FN), Jean-Luc Mélenchon (FDG) e esquerda radical (Poutou e Arthaud) – desejam. Vale dizer que o desejo desses candidatos não está apenas em dar um impulso as suas candidaturas mas também – e principalmente – pôr em cheque a hegemonia UMP-PS do debate político (a qual perdura desde o início da V República, de orientação Gaullista, em 1958). As sondagens não consolidam este cenário mas à luz do descontentamento dos franceses em relação às classes dirigentes e seu fraco interesse pelas eleições, não podemos descartá-lo.