No último
post, no qual apresentei todos os candidatos a eleição presidencial francesa,
tracei dois prováveis cenários para o voto francês de primeiro turno, eis que
na prática vimos meu primeiro prognóstico ocorrer. Em 2012, os franceses
repetiram a fórmula de 2007. Nada a ver com a vitória de Nicolas Sarkozy no
primeiro turno, visto que passados cinco anos de governo ele perdeu esta
posição para seu desafiante socialista, François Hollande. No entanto, o que
notamos foi que os candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) distanciaram-se
muito de seus desafiantes. Marine Le Pen, Jean-Luc Mélenchon e François Bayrou,
fizeram nesta ordem as posições seguintes do ‘grid de chegada’, como podemos
ver na imagem abaixo.
No entanto,
nem tudo repetiu-se de 2007 a 2012. Primeiro lugar (mas não mais importante), a
primeira posição saiu das mãos da direita e caiu nas mãos da esquerda. Segundo –
e mais notável – o terceiro colocado manteve-se na casa de 18% dos votos, mas
desta vez, a posição não pertenceu aos centristas da MoDem de François Bayrou,
mas aos ultranacionalistas da Front
National sob a liderança de Marine Le Pen. Terceira mudança entre essas
duas eleições está a posição da extrema-esquerda na eleição, detentora de menos
de 2% dos votos em 2012, esse posicionamento está aquém do obtido somente pelo
anticapitalista Olivier Besancenot (NPA) com seus 4% de 2007. O fraco
desempenho da extrema-esquerda não está apenas na mudança de candidato
anticapitalista, mas também pela mudança ocorrida na casa dos trotskystas da Lutte Ouvrière, que confiaram pela
primeira vez sua candidatura a outra pessoa que Arlette Laguiller. Nesta dura
troca, Nathalie Arthaud conquistou pouco mais que 0,5% dos votos.
Quanto às particularidades
de 2012 a mais importante delas foi em relação a votação – pouco expressiva,
aquém das expectativas – de Jean-Luc Mélenchon, cuja candidatura fez muito
barulho e provocou o ressurgimento do Partido Comunista Francês através da Front de Gauche, mas no final não
correspondeu a toda a ambiance gerada
entre seus militantes nas últimas semanas de campanha. Tendo começado a jornada
do 22 de abril com expectativas de tornar-se a terceira força política da
França e criar um domínio paralelo ao Partido Socialista no seio da esquerda
francesa, a Front de Gauche falhou em
sua tarefa ao obter módicos 11,11% (nas sondagens falávamos entre 14%-16%, com
esperanças de romper a barreira dos 18%).
A impressão
que temos ao final do primeiro turno é que a França está a beira de importantes
transformações políticas, sobretudo de sua direita. Dominante desde o final da
2ª Grande Guerra, o Gaullismo havia posto-se como grande força da direita e a
Constituição de 1958 foi apenas o auge de seu domínio que estendeu-se ao menos até
o final da presidência de Georges Pompidou (1974) e tomou um novo ar com a
eleição de Jacques Chirac (1995,2002) e porque não, seu sucessor Nicolas
Sarkozy (2007). O que vemos hoje, é uma disputa dentro da direita, da mesma
forma que o Partido Socialista originado do Congresso de Épinay (1971) batalhou
com o poderoso aliado de Moscou PCF pelo domínio da esquerda francesa, parece-nos
que UMP e FN disputam hoje a direita. De ambos os lados, duas concepções de
direita, mas também dois discursos semelhantes. Para não deixar escapar
eleitores da FN, Sarkozy e sua trupe (encabeçada pelo número 1 da UMP,
Jean-François Copé, pelo primeiro-ministro, François Fillon, e o ministro do
interior, Claude Guéant) tem cada vez mais aderido ao discurso anti-imigrante,
ao mesmo tempo em que, para agregar cada vez mais simpatizantes à sua ideia de
França, Marine Le Pen tem dotado a FN - a qual preside - de um discurso social
inovador (Ver Le Monde Diplomatique
Brasil abril/2012).
Dois dados
estatísticos devem no entanto guardar nossa atenção acerca do resultado da
eleição francesa: primeiro, 1 em cada 3 franceses optou pelos extremos do espectro
político, e segundo, 1 em cada 5 franceses decidiu-se por candidatos que
propunham a saída do euro. A França moderada do respeito e da laicidade, que vê
seu futuro na construção européia, a qual nos habituamos a conhecer nas últimas
décadas está cada vez mais distante, será necessário que o próximo presidente
francês, seja ele, François Hollande ou um Nicolas Sarkozy 2.0, escute esses
eleitores.
Oscar Berg,
Brésil, le 1er mai 2012.
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