segunda-feira, 30 de abril de 2012

Como votaram os franceses


No último post, no qual apresentei todos os candidatos a eleição presidencial francesa, tracei dois prováveis cenários para o voto francês de primeiro turno, eis que na prática vimos meu primeiro prognóstico ocorrer. Em 2012, os franceses repetiram a fórmula de 2007. Nada a ver com a vitória de Nicolas Sarkozy no primeiro turno, visto que passados cinco anos de governo ele perdeu esta posição para seu desafiante socialista, François Hollande. No entanto, o que notamos foi que os candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) distanciaram-se muito de seus desafiantes. Marine Le Pen, Jean-Luc Mélenchon e François Bayrou, fizeram nesta ordem as posições seguintes do ‘grid de chegada’, como podemos ver na imagem abaixo.






No entanto, nem tudo repetiu-se de 2007 a 2012. Primeiro lugar (mas não mais importante), a primeira posição saiu das mãos da direita e caiu nas mãos da esquerda. Segundo – e mais notável – o terceiro colocado manteve-se na casa de 18% dos votos, mas desta vez, a posição não pertenceu aos centristas da MoDem de François Bayrou, mas aos ultranacionalistas da Front National sob a liderança de Marine Le Pen. Terceira mudança entre essas duas eleições está a posição da extrema-esquerda na eleição, detentora de menos de 2% dos votos em 2012, esse posicionamento está aquém do obtido somente pelo anticapitalista Olivier Besancenot (NPA) com seus 4% de 2007. O fraco desempenho da extrema-esquerda não está apenas na mudança de candidato anticapitalista, mas também pela mudança ocorrida na casa dos trotskystas da Lutte Ouvrière, que confiaram pela primeira vez sua candidatura a outra pessoa que Arlette Laguiller. Nesta dura troca, Nathalie Arthaud conquistou pouco mais que 0,5% dos votos.
Quanto às particularidades de 2012 a mais importante delas foi em relação a votação – pouco expressiva, aquém das expectativas – de Jean-Luc Mélenchon, cuja candidatura fez muito barulho e provocou o ressurgimento do Partido Comunista Francês através da Front de Gauche, mas no final não correspondeu a toda a ambiance gerada entre seus militantes nas últimas semanas de campanha. Tendo começado a jornada do 22 de abril com expectativas de tornar-se a terceira força política da França e criar um domínio paralelo ao Partido Socialista no seio da esquerda francesa, a Front de Gauche falhou em sua tarefa ao obter módicos 11,11% (nas sondagens falávamos entre 14%-16%, com esperanças de romper a barreira dos 18%).
A impressão que temos ao final do primeiro turno é que a França está a beira de importantes transformações políticas, sobretudo de sua direita. Dominante desde o final da 2ª Grande Guerra, o Gaullismo havia posto-se como grande força da direita e a Constituição de 1958 foi apenas o auge de seu domínio que estendeu-se ao menos até o final da presidência de Georges Pompidou (1974) e tomou um novo ar com a eleição de Jacques Chirac (1995,2002) e porque não, seu sucessor Nicolas Sarkozy (2007). O que vemos hoje, é uma disputa dentro da direita, da mesma forma que o Partido Socialista originado do Congresso de Épinay (1971) batalhou com o poderoso aliado de Moscou PCF pelo domínio da esquerda francesa, parece-nos que UMP e FN disputam hoje a direita. De ambos os lados, duas concepções de direita, mas também dois discursos semelhantes. Para não deixar escapar eleitores da FN, Sarkozy e sua trupe (encabeçada pelo número 1 da UMP, Jean-François Copé, pelo primeiro-ministro, François Fillon, e o ministro do interior, Claude Guéant) tem cada vez mais aderido ao discurso anti-imigrante, ao mesmo tempo em que, para agregar cada vez mais simpatizantes à sua ideia de França, Marine Le Pen tem dotado a FN - a qual preside - de um discurso social inovador (Ver Le Monde Diplomatique Brasil abril/2012).
Dois dados estatísticos devem no entanto guardar nossa atenção acerca do resultado da eleição francesa: primeiro, 1 em cada 3 franceses optou pelos extremos do espectro político, e segundo, 1 em cada 5 franceses decidiu-se por candidatos que propunham a saída do euro. A França moderada do respeito e da laicidade, que vê seu futuro na construção européia, a qual nos habituamos a conhecer nas últimas décadas está cada vez mais distante, será necessário que o próximo presidente francês, seja ele, François Hollande ou um Nicolas Sarkozy 2.0, escute esses eleitores.

Oscar Berg,
Brésil, le 1er mai 2012.

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