terça-feira, 15 de maio de 2012

A França vira a página Sarkozy


Depois de 17 anos, um socialista volta ao Palácio do Élysée


Da noite de festa do 6 de maio a manhã de 7 de maio, a França amanheceu um novo país, na passagem destes dois dias a França não apenas escolheu um novo presidente, mas um novo destino. O que esteve em jogo na eleição presidencial de 2012 dividida em dois turnos equilibrados e muito disputados foi muito maior que a vaga ao qual destinava-se o pleito. Esteve em jogo, mais do que nunca, o futuro da França, sua escolha entre conformismo ou desafio; divisão ou conciliação e - em momentos de crise da dívida, algo que faz muito sentido - austeridade ou crescimento. No momento em que François Hollande ascende ao topo do Estado Francês, a definição dos desafios acima torna a transição do conservador Sarkozy ao socialista Hollande não apenas uma simples alternância de poder mas uma verdadeira mudança, pois como nos dizia o slogan de François Hollande « A mudança é agora ».

Eu recebo os resultados da eleição presidencial francesa de 2012 mais como um grito de esperança que um grito de desconfiança no presidente Sarkozy. François Hollande conseguiu ao longo do período entre sua candidatura às primárias socialistas e ia vitória no último domingo aquilo que nenhum outro socialista francês havia conseguido desde Mitterrand em 1988: Suscitar a esperança. Certamente a crítica ao saldo do governo Sarkozy-Fillon passou pelo discurso de Hollande, mas não foi a desconfiança dos franceses em relação ao agora ex-presidente que fez o socialista vencer, no entanto, foi a capacidade de suscitar em seu eleitorado aquilo que ele mesmo chamou de « Rêve Français », ou seja, o ideal republicano em que é tornado possível a uma geração viver melhor que a sua predecessora.

Eu recebo o resultado da eleição presidencial francesa de 2012 como uma chance para a Europa. A crise européia atual é vista como uma crise da dívida pública, no entanto, antes disso, a crise européia é uma crise social e política ambas resguardando relações de causa consequência entre si. Social, pois a Europa vive a crise do modelo que criou e defendeu, aquele do bem-estar social. Política, pois esta crise é uma consequência do marasmo da social-democracia européia, que há anos não consegue traduzir as transformações do Sistema Internacional em reformas que continuem a deixar competitivo o sistema produtivo europeu e que deem continuidade ao welfare state como organização estatal de excelência de igualdade e justiça. A combinação das duas crises acima é o desemprego em massa das populações europeias e a desindustrialização contínua  do continente, o que por final emerge um novo risco à democracia e integridade do bloco da UE: o crescimento da extrema-direita.

Eleito em 06 de maio de 2012, com 51,7% dos votos, François Hollande, do Partido Socialista terá a sua frente grandes desafios a corresponder e promessas a cumprir. Sabemos de antemão que caso Hollande venha a falhar em algum dos dois pontos acima, a social-democracia européia terá perdido a chance que lhe foi conferida no último domingo de reerguer-se, e o voto contestatório da extrema-direita baterá a porta dos progressistas. O papel de Hollande na história portanto, transcende a eleição do último domingo e as fronteiras do Hexágono francês e apresenta-se – como ele mesmo declarou em seu discurso da vitória em seu reduto eleitoral, a pequena Tulle – como um alívio, uma esperança à Europa, um ponto final a ideia de que a austeridade é uma fatalidade.






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