Depois de 17 anos, um socialista volta ao Palácio do Élysée |
Da noite de festa do 6 de
maio a manhã de 7 de maio, a França amanheceu um novo país, na passagem destes
dois dias a França não apenas escolheu um novo presidente, mas um novo destino.
O que esteve em jogo na eleição presidencial de 2012 dividida em dois turnos
equilibrados e muito disputados foi muito maior que a vaga ao qual destinava-se
o pleito. Esteve em jogo, mais do que nunca, o futuro da França, sua escolha
entre conformismo ou desafio; divisão ou conciliação e - em momentos de crise
da dívida, algo que faz muito sentido - austeridade ou crescimento. No momento
em que François Hollande ascende ao topo do Estado Francês, a definição dos
desafios acima torna a transição do conservador Sarkozy ao socialista Hollande
não apenas uma simples alternância de poder mas uma verdadeira mudança, pois
como nos dizia o slogan de François
Hollande « A mudança é agora ».
Eu recebo os resultados
da eleição presidencial francesa de 2012 mais como um grito de esperança que um
grito de desconfiança no presidente Sarkozy. François Hollande conseguiu ao
longo do período entre sua candidatura às primárias socialistas e ia vitória no
último domingo aquilo que nenhum outro socialista francês havia conseguido
desde Mitterrand em 1988: Suscitar a esperança. Certamente a crítica ao saldo
do governo Sarkozy-Fillon passou pelo discurso de Hollande, mas não foi a
desconfiança dos franceses em relação ao agora ex-presidente que fez o
socialista vencer, no entanto, foi a capacidade de suscitar em seu eleitorado
aquilo que ele mesmo chamou de « Rêve
Français », ou seja, o ideal republicano em que é tornado possível a
uma geração viver melhor que a sua predecessora.
Eu recebo o resultado da
eleição presidencial francesa de 2012 como uma chance para a Europa. A crise
européia atual é vista como uma crise da dívida pública, no entanto, antes
disso, a crise européia é uma crise social e política ambas resguardando
relações de causa consequência entre si. Social, pois a Europa vive a crise do
modelo que criou e defendeu, aquele do bem-estar social. Política, pois esta
crise é uma consequência do marasmo da social-democracia européia, que há anos
não consegue traduzir as transformações do Sistema Internacional em reformas
que continuem a deixar competitivo o sistema produtivo europeu e que deem
continuidade ao welfare state como
organização estatal de excelência de igualdade e justiça. A combinação das duas
crises acima é o desemprego em massa das populações europeias e a
desindustrialização contínua do
continente, o que por final emerge um novo risco à democracia e integridade do
bloco da UE: o crescimento da extrema-direita.
Eleito em 06 de maio de
2012, com 51,7% dos votos, François Hollande, do Partido Socialista terá a sua
frente grandes desafios a corresponder e promessas a cumprir. Sabemos de
antemão que caso Hollande venha a falhar em algum dos dois pontos acima, a
social-democracia européia terá perdido a chance que lhe foi conferida no
último domingo de reerguer-se, e o voto contestatório da extrema-direita baterá
a porta dos progressistas. O papel de Hollande na história portanto, transcende
a eleição do último domingo e as fronteiras do Hexágono francês e apresenta-se
– como ele mesmo declarou em seu discurso da vitória em seu reduto eleitoral, a
pequena Tulle – como um alívio, uma esperança à Europa, um ponto final a ideia
de que a austeridade é uma fatalidade.
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