Arnaud Montebourg – A França do não
Lições do Sucesso - Arnaud Montebourg convidado do Journal de 20 heures da France 2, tornou-se o árbitro do 2° turno
Para quem acompanha as primárias do PS como ferramenta de análise para determinar como anda o movimento socialista internacional – em particular o francês e europeu – o voto em Arnaud Montebourg nos aponta uma mudança no pensamento dos franceses: o Partido Socialista francês que sempre foi um entusiasta do internacionalismo, da integração européia e muitas vezes da globalização viu nascer dentro de si um movimento que, em certa medida, tenta caminhar na direção contrária – a do protecionismo e desglobalização.
Ainda que Montebourg não tente, conforme divulgado por seus opositores políticos (leia-se UMP) e jornalistas não simpáticos à esquerda, transformar a França em uma ilha, seu projeto (intitulado “La Nouvelle France”) avança demasiadamente sobre as linhas protecionistas. Manuel Valls, concorrente de Montebourg nas primárias, discursou que não se pode promover a desglobalização; evidentemente a declaração do deputado ligado à ala direita do PS não foi bem recebida no conjunto de socialistas. Mesmo em função da recepção ruim da declaração, não podemos deixar de considerar que Valls, em certa medida, está certo: Como poderia a França, o pilar da União Européia, ator internacional com status de potência regional de primeira ordem deixar de lado o plano internacional e focalizar apenas o doméstico? (muito parecido ao dilema norte-americano do pós-guerra) Como poderia a França proteger-se unilateralmente das delocalizações e importações de países magrebinos e asiáticos, uma vez que está inserida em uma grande comunidade de integração política/econômica continental?
Por mais que Arnaud Montebourg procure explicar a aplicação de suas idéias de desglobalização, protecionismo francês e europeu, tutela dos bancos e fundação da VIª República Francesa, em seu livro Des idées et des rêves (publicação ainda inédita no Brasil), continuaremos a ter dúvida da possibilidade real destas políticas serem adotadas em um curto espaço de tempo. O voto em Arnaud Montebourg nos é uma rara oportunidade para conhecermos o que os franceses, em um momento de uma profunda crise econômica, pensam em relação a globalização, a internacionalização do capital financeiro e a ação sem limites dos bancos, colando a prova a imagem que a nossa esquerda radical-comunista, trotskista, leninista e marxista nos vende, que estes fenômenos estariam a serviço e serviriam aos interesses dos países ricos e desenvolvidos, para legimitimar seu domínio no Sistema Internacional, o enriquecimento de sua população simultâneo a miséria dos demais povos.
Em uma primeira análise, os 450 mil votos recebidos por Arnaud Montebourg nos provam, que esta imagem vendida por esta parcela de nossa esquerda é desprovida de evidências e em despasso com a realidade.
Oscar Berg,
Brésil, Le 13 octobre 2011
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