sábado, 8 de outubro de 2011

Carta Aberta: François Hollande é o candidato de FrancePo às primárias socialistas


François Hollande, a escolha de FrancePo, é o melhor candidato para fazer vencer a esquerda em 2012.



Existe um verbo em francês que é capaz de indicar qual será o papel de vencedor das Primaires Citoyennes e este verbo é << Rassembler >>, que toma o seguinte significado: reunir para uma ação comum [1]. O papel portanto do vencedor das primárias será de reunir o maior número de franceses para a alternância em 2012. Sendo esta a missão do candidato socialista para 2012, FrancePo não poderia declarar seu apoio a outro candidato para as primárias PS do que a François Hollande.

                O quinquenato de Nicolas Sarkozy frente à República Francesa é qualquer coisa próxima à um grande fracasso: desemprego acima de 10%, sendo 23% dos jovens e 75% dos jovens dos subúrbios mais sensíveis; deslocalização massiva das empresas francesas para o exterior; supressão de 60 000 postos de trabalho no escola pública francesa; aumento da idade mínima para aposentadoria; ameaças à cultura da laicidade, dos valores republicanos e do multiculturalismo; 25% dos franceses sem condições de partir em férias em 2011; perda de controle no aumento da dívida pública; extenuantes tentativas de jogar desempregados contra operários, assalariados contra funcionários públicos, trabalhadores contra sindicatos, gerações contra gerações, etc. O fracasso Sarkozysta, no entanto, não é nenhum motivo sólido para garantir-se a alternância em 2012, nem mesmo para o avanço das forças progressistas . Será preciso para tanto que tal ordenamento político apresente um candidato capaz de fazer face a UMP (Union pour un mouvement populaire – partido político francês de direita) e seu candidato Sarkozy e a convencer s franceses a não cair na doce ilusão da extrema-direita.

                Será necessário portanto, um candidato que seja capaz primeiramente de reunir (rassembler) a união dos socialistas, em seguida conquistar o apoio de outras forças da esquerda, como os verdes e os comunistas (que juntos podem somar mais de 15% dos votos em 2012), mas também da extrema-esquerda. No entanto, o fator decisivo para a alternância em 2012 será a capacidade do candidato socialista em engajar eleitores do centro (ainda sem candidatos definidos) e aos desacreditos do sarkozysmo que tenham contribuído para a vitória do conservador em 2007.

                De todos os seis candidatos inscritos às primárias socialistas, é François Hollande quem reúne as características elencadas anteriormente, foi ele que evitou a fragmentação do PS após as derrotas nas eleições presidenciais de 2002 e 2007 e ainda por cima conseguiu levar seu partido a belas vitórias em eleições regionais e cantonais, incluindo sua própria vitória no departamento da Corrèze, governado desde 1985 pela direita. Poderíamos neste sentido pensar também em Martine Aubry, que desde 2008 continuou a dar sequência ao processo de união dos socialistas, porém a prefeita de Lille tem aparecido em desvantagem em relação a François Hollande nas pesquisas de intenção de voto para a presidência, além de ser lembrada como a arquiteta da lei das 35 horas semanais em 2000 o que pode levar muitos franceses a desistirem do voto em Aubry por a ligarem a medidas atualmente extremamente impopulares no conjunto dos franceses, como a Lois Aubry. E sabemos que a direita, ainda forte apesar da impopularidade de Sarkozy, se usará de todos os motivos possíveis para vencerem os progressistas e isto inclui as 35 horas (atualmente não defendidas amplamente nem no interior do PS, o candidato Valls deseja discutir sua continuidade, ou melhor, sua descontinuidade).

                François Hollande entendeu que o maior desafio da França hoje é evitar que as gerações futuras vivam os efeitos dos erros políticos e econômicos de agora, por isso, FH colocou a juventude no centro de seu projeto político, incitando o Rêve Français, como objeto de desejo de que uma geração possa viver melhor que a sua predecessora. Hollande tem como uma de suas principais propostas os ‘contratos de gerações’, propondo que o empregador mantenha um sênior e contrate um jovem de menos de 25 anos para adquirir a experiência do sênior, em contrapartida o empregador estaria dispensado de pagamento de encargos sociais dos dois empregados. Com esta proposta, FH pretende criar 200 000 empregos jovens por ano. Em relação à escola, FH prometeu recuperar todos os postos de trabalho suprimidos Nicolas Sarkozy, em relação a fiscalidade e aos impostos, o deputado da Corrèze deseja eliminar todos os nichos fiscais criados por Sarkozy em benefício dos mais abonados, o retorno do imposto progressivo, o equilíbrio da dívida pública de acordo com o estabelecido pelo Tratado de Maastricht, promover a transição da matriz energética, diminuindo em 25% a necessidade do uso da energia nuclear, a manutenção do euro como moeda única européia, auxílio as economias em dificuldade, um pacto franco-alemão, uma política exterior européia mais influente, etc.

                As propostas de François Hollande são as mais flexíveis entre os candidatos das Primaires Citoyennes, sempre baseado no Projeto Socialista, votado unanimemente pelos militantes do PS, FH vai além e propõe medidas que vão ao encontro dos maiores problemas da França, ficando suficientemente distanciado do ‘realismo pseudo-sarkozysta’ de Manuel Valls, e mais próximo do tangível do que as propostas de Aubry, Royal e Montebourg. Estando ligado a ala mais à direita do PS, François Hollande é o único candidato socialista com chances reais de engajar os eleitores do centro antes que eles caiam na tentação da extrema-direita e assim ter chances reais de bater Sarkozy na disputa presidencial. A campanha de FH não é de forma nenhuma a da “esquerda mole” preconizada por Martine Aubry, e sim aquela da esquerda pluralista. Como diziam dois dos slogans da campanha de François Mitterrand, Hollande é também o candidato ‘de toutes les forces de la France’ (‘de todas as forças da França’) e aquele da ‘force tranquille’ (‘a força equilibrada’) reunindo em torno de sua equipe de campanha desde o social-democrata Pierre Moscovici até o ex-candidato comunista à presidência Robert Hue.

                Não importa o resultado que as urnas trarão neste domingo próximo, as Primaires Citoyennes já constituem um tremendo sucesso: 4 milhões de franceses se declararam prontos a irem votar (o PS possui algo mais que 200 000 militantes); ambas as candidaturas que emergiram como favoritas à vitória (as de François Hollande e Martine Aubry), segundo as sondagens, venceriam Sarkozy numa eventual disputa presidencial; a possibilidade da apresentação de diferentes visões de esquerda (desde a ‘realista’ de Valls a da desglobalização de Montebourg) permitiu uma maior aproximação em torno deste espectro político, possibilitando a eleição do primeiro socialista como presidente do Senado desde o início da Vª República no último sábado. Todo este sucesso não será responsável apenas pela alternância em 2012 como também na necessidade da mudança do pensamento político e da ação partidária que ainda não apliquem um modelo democrático de primárias abertas à todas a França.

Saudações Socialistas,
Oscar Berg

Brésil, le 7 Octobre 201
               

                

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