quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O centrista François Bayrou sobre o Projeto Socialista e Hollande.

O centrista François Bayrou sobre o Projeto Socialista e Hollande.
                          O Mouvement Democrate é a primeira força do centrismo na França.

Um dos argumentos que valeram a investida de François Hollande como candidato socialista para as eleições de 2012 via primárias foi a possibilidade de conquistar o eleitorado do centro em um suposto segundo turno contra o atual presidente Sarkozy, no entanto, o engajamento de Hollande no Projeto Socialista e todas as garantias que ele teve que dar a seus adversários no primeiro turno das primárias (notadamente à Montebourg e Ségolène) pode afastar um eventual apoio do centrista François Bayrou, principal força do centro, ‘dono’ de 18% dos votos do primeiro turno em 2007 e importante figura na eleição do próximo ano.

Hollande sim, não o PS

                O líder centrista Bayrou declarou que poderiam haver pontos em comum entre ele e François Hollande, caso o socialista defendesse suas próprias idéias, e não as do Projeto Socialista. Para Bayrou, “Se Hollande fosse candidato contra o PS oficial, ele iria criticar seu projeto como Manuel Valls corajosamente fez, no entanto ele decidiu ser o candidato do Projeto do PS”.
                Bayrou declarou que Hollande é alguém por quem Le tem uma grande estima, esquivando-se de responder se Hollande poderia ser seu primeiro-ministro. Por final, François Bayrou aproveitou o momento para atacar as teses dos principais partidos franceses, a UMP e o PS, em uma entrevista ao jornal Le Monde, declarou o projeto do PS “impossível, insustentável”, como podemos ver na entrevista integralmente traduzida.
Com 18% dos votos em 2007, F.Bayrou pode aparecer novamente como um importante outsider em 2012

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François Bayrou: “O projeto do PS é insustentável para a França”

O presidente do MoDem, François Bayrou, reagiu à aceleração da crise na Europa e a escolha de François Hollande como candidato PS.

A crise, com a supervisão pela Moody’s da nota AAA da França, nos ameaça como nunca. Você julga a política dirigida por Nicolas Sarkozy como boa a esse respeito?
Havia uma coisa a ser feita, no primeiro dia, que não teria custado caro e teria detido a crise. Bastaria que a União Européia afirmasse que a dívida contraída até agora pelos Estados da Zona do Euro estava garantida por instituições da Zona do Euro. A França teria defendido esta tese. Isto, teria reestabelecido a confiança e não teria custado o preço exorbitante que a desconfiança generalizada está nos obrigando a assumir. A renovação das próximas dívidas em compensação, deveria estar condicionada à reformas. Isto não foi aplicado. Uma estratégia confusa pregada a uma política alemã, ela mesmo, incerta conduziu à generalização da desconfiança.
A UMP anuncia o fim do AAA em algumas horas caso Hollande seja eleito presidente em 2012...
Ele tem apenas uma estratégia de recuperação das finanças públicas. Esta estratégia, é de aumentar os recursos fiscais do Estado e de baixar um certo número de despesas públicas. Cerca de 20 bilhões devem ser economizados ao nível do Estado, uma dezena de bilhões nas coletividades locais e mais 20 bilhões em Segurança social. Em relação aos recursos, eu defendo a criação de duas novas fatias de impostos sobre a renda: Deve-se aumentar à 45% o que atualmente corresponde à 41% e criar uma à 50%. Dever-se-a acabar com os nichos fiscais em 20 bilhões de euros e aumentar o TVA em dois pontos.
A esquerda está iludida quando ela diz: “Nós vamos aumentar os impostos e isso nos permitirá de criar novas despesas públicas.” La direita repete esta história quando ela diz “Nós iremos baixar a despesa pública sem aumentar os impostos.”
François Hollande se diz sensível a questão dos déficits. No fundo, ele não ocupa, como você, o espaço do centro?
Não é nenhum segredo que eu tenho boas relações com François Hollande. No entanto, ele esta engajado ao projeto de seu partido que é insustentável para a França. In-sus-tem-tá-vel! Eu os digo separando as sílabas. Nós não criamos 300 000 empregos para jovens com fundos públicos. Nós não iremos contratar dezenas de milhares de funcionários. Nós não iremos retornar a aposentadoria aos 60 anos. Nós não iremos fazer uma alocação geral aos estudantes. Tudo isso junto é uma ilusão destrutiva para nosso país. È uma mentira pública.
Não dizer a verdade, é nos condenarmos a acidentes à curto prazo. Em 2007, em dizia que nós não poderíamos continuar as dérives (termo político francês que trata de atitudes ou políticas que diferem das anunciadas por aqueles que as dirigem) dois anos após a eleição presidencial. Isto foi verificado. Agora, eu afirmo que não podemos continuá-las por dois meses.
Você não acredita então nas intenções de F. Hollande?
Ao fundo dele mesmo, eu estou certo que ele não é muito distante deste pensamento. Mas os socialistas decidiram-se de uma estratégia de sedução em todas as direções. Ter levado 2,5 milhões de pessoas a votarem em um projeto que não será posto em prática, é para mim um embaraço democrático.
Assim do lançamento de sua campanha, F. Hollande fez uma abertura em direção aos centristas...
 François Hollande pretende que sua maioria no governo compreenda desde comunistas e  ecologistas até os centristas. Eu lhe disse: Esta maioria não existirá. Temos duas teses inconciliáveis: uns dizem: “A culpa é do capitalismo, temos que desglobalizar”. Outros são reformistas. Eu admito com muito prazer que François Hollande pertence a segunda família. Mas esta maioria compreendendo estas duas famílias é impossível à longo termo.
Os acontecimentos vão se impor – seja quem for o vencedor das eleições – uma maioria na qual reformistas da esquerda, do centro e da direita republicana deverão compartilhar a responsabilidade do poder. Nenhuma das duas maiorias tradicionais respeita o contrato que a necessidade irá impor. A direita está sob-pressão e a extrema direita, ou popular, que flerte com temas eurofóbicos e anti-imigrantes, e a esquerda está sob a pressão da desglobalização. Com estranhas semelhanças entre os dois extremos radicais.
As projeções sobre as legislativas de 2012 predizem uma grande vitória da esquerda. Qual pode ser o papel do centro?
Atualmente, a esquerda é favorita. A virtude desta eleição presidencial é que ela permita ao país de redesenhar sua paisagem política. A maioria que saíra das urnas deverá exercer uma maioria legislativa diferente. E, quando chegar este prazo, a corrente central do país, unificada, deverá, ela mesmo, defender suas convicções e seus candidatos. Se eu ganhar, esta grande corrente terá candidatos em todas os distritos eleitorais, e será uma corrente de união poderosa.
Unir os centristas já é uma missão delicada...
O centro está disperso. Mais eu creio que esta dispersão terá fim. Há muitos deputados da maioria atual (UMP) que dialogam conosco, assim como eleitos locais de centro-esquerda, a tomada de consciência está a ponto de ser feita, tanto que no final será necessário decidir entre Nicolas Sarkozy e eu.
Em 2007, muitos de seus apoiadores foram importantes para garantir a reeleição. Porque eles mudarão de opinião?
Todo mundo sabe que a UMP é um fracasso. É necessário reconstruir o centro independentemente. Eu não estou aqui para ajustar contas, eu não vou acusar coisas do passado. Os deputados perceberão certamente que a UMP não pode mais lhe assegurar sua reeleição.
Se você não chegar ao segundo turno da eleição presidencial, o que você fará?
Existem quatro candidatos possíveis de chegarem ao segundo turno: Marine Le Pen, Nicolas Sarkozy, François Hollande e eu. Desses quatro, três tem possibilidades de serem eleitos: Nicolas Sarkozy, François Hollande e eu. Quatro de três! A campanha eleitoral permitirá os franceses decidirem. Após, teremos um segundo turno no qual cada um assumirá suas responsabilidades.
Desta vez você divulgará sua preferência?
Eu assumirei minhas responsabilidades, e esta decisão será tomada junto aos meus companheiros.
Você pediu várias vezes uma parte proporcional nas eleições legislativas.  É a chave de um acordo?
Eu lhe disse claramente que não é mais possível que 50% do país seja excluído da Assembléia Nacional. Da extrema-esquerda a Front Populaire, passando pelos ecologistas e pelo centro, a maioria do país é excluída, ou obrigada à se aliar por ter algumas cadeiras. Esta exlusão é vergonhosa. É necessário mudar isto antes ou após a eleição presidencial? Se eu fosse Nicolas Sarkozy eu me perguntaria quais são as razões da fragilidade na qual nós estamos e eu abriria, antes de 2012, para as eleições que chegam, o debate.
A perspectiva de uma via democrática dominada sem partilha pelo PS, que, com menos de 30% dos votos, poderá ocupar, sem exceção, todos os poderes da República é doentia. Isto jamais se reproduz em uma República.
As primárias dos partidos agora acabaram. Agora sim, começará a verdadeira primária, a primária do país. Os franceses têm duas perguntas a serem feitas: eles desejam a alternância? E, se sim, com qual projeto, qual presidente e qual maioria?
Você não teme que a crise aumente a polarização do debate político, reduzindo o campo do centro?
Como a toda eleição, nós tentaremos reduzir o debate à bipolarização. E como a cada eleição, nós iremos fracassar nesta tentativa. Eu garanto que o nosso eleitorado hoje é maior do que em 2006.
Não se engane: muitos franceses desejam uma alternância, eles desejam virar a página Sarkozy, no entanto, eles mão querem designar todos seus poderes ao PS. Acima de tudo, ele desejam que a gente diga a verdade e lhe proponha um caminha crível para a alternância.

Entrevistado por Patrick Jarreau e Pierre Jaxel-Truer
Originalmente disponível em

Oscar Berg,
Brésil, Le 26 Octobre 2011               

               

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