Na conturbado semana da reunião do G20 em Cannes, a disputa pela Presidência francesa ganhou mais um concorrente nesta semana: o senador de Belfort, ex-membro do PS e atual presidente de honra do MRC (Mouvement Républicain Citoyen – Movimento Republicano Cidadão) Jean-Pierre Chevènement.

O PS não lamenta a candidatura do ex-líder do CERES (Centre d’études, de recherches et d’éducation socialiste - moção da ala esquerda do PS no Congresso de sua fundação em Épinay (1971) que teve um papel muito importante quando François Mitterrand foi Primeiro-Secretário do PS e Presidente francês) até mesmo pois a candidatura de Chevènement não é nenhuma surpresa, em 2010 em um congresso do MRC, o partido já havia decidido apresentar um candidato próprio para 2012 (em 2007 o partido apoiou a socialista Ségolène Royal), e também Chevènement dava pistas de que iria se candidatar, dentre outras publicou o segundo livro em nove meses (na França, é tradição que todo candidato publique um livro-projeto quando de sua candidatura. OBS: O que é inimaginável no Brasil onde tantos candidatos que não sabem ler ou escrever se candidatam.... e se elegem) intitulado, Sortir la France de l'impasse (Tirar a França do impasse) (Fayard, 168 p., 12 euros).
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Em 2007, o ex-socialista apoiou Ségolène Royal, agora Jean-Pierre Che decidiu-se pela candidatura própria, uma decisão que pode atrapalhar as ambições da esquerda francesa.
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A transição ao século XXI e “a globalização deixou a esquerda sem alternativas” como disse o Editorial da Folha de São Paulo (3/6/1997). Movimentos socialistas e social-democratas de todo o mundo (à época do editorial da Folha, apenas Alemanha e Espanha não tinham governos de esquerda na Europa) estavam perdidos em suas reformas, muitas inclusive aplicando reformas tachadas de “neoliberais” (Fernando Henrique Cardoso, Tony Blair, Clinton, Lionel Jospin, etc.) , a eleição presidencial francesa de 2002 se anunciava, portanto difícil aos socialistas e a seu candidato, o primeiro-ministro (1997-2002) da coabitação com o gaullista Chirac (RPR), Lionel Jospin.
Além dos problemas naturais do world time aos socialistas e social-democratas, Jospin enfrentou uma esquerda dividida na eleição de 2002, ao todo se candidataram outros 7 candidatos de esquerda: Arlette Laguiller (Lutte Ouvrière), Jean-Pierre Chevènement (RMC), Noël Mamère (Verdes), Olivier Besancenot (Anticapitalista), Robert Hue (Comunista Francês), Christiane Taubira (PRG - Radicais de Esquerda ) e Daniel Gluckstein (PT). A esquerda dividida permitiu que, pela segunda vez na Vª República, tivéssemos um segundo turno entre dois candidatos de direita (um moderado, por vezes chamado de centrista, e um convicto de direita), em 2002 no entanto, a situação foi ainda pior do que 1969 (Ver nota abaixo), pois na primeira eleição presidencial do séc. XX não tivemos um candidato moderado contra de direita, tivemos um candidato de direita contra um de extrema-direita; ultranacionalista, populista e xenófobo, Jean-Marie Le Pen (pai da atual candidata Marine Le Pen), obrigando os progressistas de esquerda a votarem no gaullista-conservador Jacques Chirac, para ‘evitar o mal maior’.
Nota: Em 1969, eleição que decidiria o sucessor do General de Gaulle após sua demissão, os franceses tiveram a sua escolha sete candidatos, sendo cinco de esquerdas. Após a eleição de 1965, na qual a esquerda havia se unido em torno da candidatura de Mitterrand (derrota por De Gaulle no 2° turno), os partidos fortes de esquerda da época não chegaram a uma decisão: o PCF (primeira força da esquerda à época) não se acertou com os socialistas da SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária - 1ª Internacional) nem com o PSU (Partido Socialista Unificado) de Michel Rocard. A desunião da esquerda abriu caminho para que Georges Pompidou (candidato direto à sucessão de De Gaulle) e Alain Poher (Presidente do Senado, candidato centrista) disputassem o segundo turno, vencido pelo candidato gaullista, Georges Pompidou.
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Oscar Berg,
Brésil, Le 9 Novembre 2011