quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O centrista François Bayrou sobre o Projeto Socialista e Hollande.

O centrista François Bayrou sobre o Projeto Socialista e Hollande.
                          O Mouvement Democrate é a primeira força do centrismo na França.

Um dos argumentos que valeram a investida de François Hollande como candidato socialista para as eleições de 2012 via primárias foi a possibilidade de conquistar o eleitorado do centro em um suposto segundo turno contra o atual presidente Sarkozy, no entanto, o engajamento de Hollande no Projeto Socialista e todas as garantias que ele teve que dar a seus adversários no primeiro turno das primárias (notadamente à Montebourg e Ségolène) pode afastar um eventual apoio do centrista François Bayrou, principal força do centro, ‘dono’ de 18% dos votos do primeiro turno em 2007 e importante figura na eleição do próximo ano.

Hollande sim, não o PS

                O líder centrista Bayrou declarou que poderiam haver pontos em comum entre ele e François Hollande, caso o socialista defendesse suas próprias idéias, e não as do Projeto Socialista. Para Bayrou, “Se Hollande fosse candidato contra o PS oficial, ele iria criticar seu projeto como Manuel Valls corajosamente fez, no entanto ele decidiu ser o candidato do Projeto do PS”.
                Bayrou declarou que Hollande é alguém por quem Le tem uma grande estima, esquivando-se de responder se Hollande poderia ser seu primeiro-ministro. Por final, François Bayrou aproveitou o momento para atacar as teses dos principais partidos franceses, a UMP e o PS, em uma entrevista ao jornal Le Monde, declarou o projeto do PS “impossível, insustentável”, como podemos ver na entrevista integralmente traduzida.
Com 18% dos votos em 2007, F.Bayrou pode aparecer novamente como um importante outsider em 2012

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François Bayrou: “O projeto do PS é insustentável para a França”

O presidente do MoDem, François Bayrou, reagiu à aceleração da crise na Europa e a escolha de François Hollande como candidato PS.

A crise, com a supervisão pela Moody’s da nota AAA da França, nos ameaça como nunca. Você julga a política dirigida por Nicolas Sarkozy como boa a esse respeito?
Havia uma coisa a ser feita, no primeiro dia, que não teria custado caro e teria detido a crise. Bastaria que a União Européia afirmasse que a dívida contraída até agora pelos Estados da Zona do Euro estava garantida por instituições da Zona do Euro. A França teria defendido esta tese. Isto, teria reestabelecido a confiança e não teria custado o preço exorbitante que a desconfiança generalizada está nos obrigando a assumir. A renovação das próximas dívidas em compensação, deveria estar condicionada à reformas. Isto não foi aplicado. Uma estratégia confusa pregada a uma política alemã, ela mesmo, incerta conduziu à generalização da desconfiança.
A UMP anuncia o fim do AAA em algumas horas caso Hollande seja eleito presidente em 2012...
Ele tem apenas uma estratégia de recuperação das finanças públicas. Esta estratégia, é de aumentar os recursos fiscais do Estado e de baixar um certo número de despesas públicas. Cerca de 20 bilhões devem ser economizados ao nível do Estado, uma dezena de bilhões nas coletividades locais e mais 20 bilhões em Segurança social. Em relação aos recursos, eu defendo a criação de duas novas fatias de impostos sobre a renda: Deve-se aumentar à 45% o que atualmente corresponde à 41% e criar uma à 50%. Dever-se-a acabar com os nichos fiscais em 20 bilhões de euros e aumentar o TVA em dois pontos.
A esquerda está iludida quando ela diz: “Nós vamos aumentar os impostos e isso nos permitirá de criar novas despesas públicas.” La direita repete esta história quando ela diz “Nós iremos baixar a despesa pública sem aumentar os impostos.”
François Hollande se diz sensível a questão dos déficits. No fundo, ele não ocupa, como você, o espaço do centro?
Não é nenhum segredo que eu tenho boas relações com François Hollande. No entanto, ele esta engajado ao projeto de seu partido que é insustentável para a França. In-sus-tem-tá-vel! Eu os digo separando as sílabas. Nós não criamos 300 000 empregos para jovens com fundos públicos. Nós não iremos contratar dezenas de milhares de funcionários. Nós não iremos retornar a aposentadoria aos 60 anos. Nós não iremos fazer uma alocação geral aos estudantes. Tudo isso junto é uma ilusão destrutiva para nosso país. È uma mentira pública.
Não dizer a verdade, é nos condenarmos a acidentes à curto prazo. Em 2007, em dizia que nós não poderíamos continuar as dérives (termo político francês que trata de atitudes ou políticas que diferem das anunciadas por aqueles que as dirigem) dois anos após a eleição presidencial. Isto foi verificado. Agora, eu afirmo que não podemos continuá-las por dois meses.
Você não acredita então nas intenções de F. Hollande?
Ao fundo dele mesmo, eu estou certo que ele não é muito distante deste pensamento. Mas os socialistas decidiram-se de uma estratégia de sedução em todas as direções. Ter levado 2,5 milhões de pessoas a votarem em um projeto que não será posto em prática, é para mim um embaraço democrático.
Assim do lançamento de sua campanha, F. Hollande fez uma abertura em direção aos centristas...
 François Hollande pretende que sua maioria no governo compreenda desde comunistas e  ecologistas até os centristas. Eu lhe disse: Esta maioria não existirá. Temos duas teses inconciliáveis: uns dizem: “A culpa é do capitalismo, temos que desglobalizar”. Outros são reformistas. Eu admito com muito prazer que François Hollande pertence a segunda família. Mas esta maioria compreendendo estas duas famílias é impossível à longo termo.
Os acontecimentos vão se impor – seja quem for o vencedor das eleições – uma maioria na qual reformistas da esquerda, do centro e da direita republicana deverão compartilhar a responsabilidade do poder. Nenhuma das duas maiorias tradicionais respeita o contrato que a necessidade irá impor. A direita está sob-pressão e a extrema direita, ou popular, que flerte com temas eurofóbicos e anti-imigrantes, e a esquerda está sob a pressão da desglobalização. Com estranhas semelhanças entre os dois extremos radicais.
As projeções sobre as legislativas de 2012 predizem uma grande vitória da esquerda. Qual pode ser o papel do centro?
Atualmente, a esquerda é favorita. A virtude desta eleição presidencial é que ela permita ao país de redesenhar sua paisagem política. A maioria que saíra das urnas deverá exercer uma maioria legislativa diferente. E, quando chegar este prazo, a corrente central do país, unificada, deverá, ela mesmo, defender suas convicções e seus candidatos. Se eu ganhar, esta grande corrente terá candidatos em todas os distritos eleitorais, e será uma corrente de união poderosa.
Unir os centristas já é uma missão delicada...
O centro está disperso. Mais eu creio que esta dispersão terá fim. Há muitos deputados da maioria atual (UMP) que dialogam conosco, assim como eleitos locais de centro-esquerda, a tomada de consciência está a ponto de ser feita, tanto que no final será necessário decidir entre Nicolas Sarkozy e eu.
Em 2007, muitos de seus apoiadores foram importantes para garantir a reeleição. Porque eles mudarão de opinião?
Todo mundo sabe que a UMP é um fracasso. É necessário reconstruir o centro independentemente. Eu não estou aqui para ajustar contas, eu não vou acusar coisas do passado. Os deputados perceberão certamente que a UMP não pode mais lhe assegurar sua reeleição.
Se você não chegar ao segundo turno da eleição presidencial, o que você fará?
Existem quatro candidatos possíveis de chegarem ao segundo turno: Marine Le Pen, Nicolas Sarkozy, François Hollande e eu. Desses quatro, três tem possibilidades de serem eleitos: Nicolas Sarkozy, François Hollande e eu. Quatro de três! A campanha eleitoral permitirá os franceses decidirem. Após, teremos um segundo turno no qual cada um assumirá suas responsabilidades.
Desta vez você divulgará sua preferência?
Eu assumirei minhas responsabilidades, e esta decisão será tomada junto aos meus companheiros.
Você pediu várias vezes uma parte proporcional nas eleições legislativas.  É a chave de um acordo?
Eu lhe disse claramente que não é mais possível que 50% do país seja excluído da Assembléia Nacional. Da extrema-esquerda a Front Populaire, passando pelos ecologistas e pelo centro, a maioria do país é excluída, ou obrigada à se aliar por ter algumas cadeiras. Esta exlusão é vergonhosa. É necessário mudar isto antes ou após a eleição presidencial? Se eu fosse Nicolas Sarkozy eu me perguntaria quais são as razões da fragilidade na qual nós estamos e eu abriria, antes de 2012, para as eleições que chegam, o debate.
A perspectiva de uma via democrática dominada sem partilha pelo PS, que, com menos de 30% dos votos, poderá ocupar, sem exceção, todos os poderes da República é doentia. Isto jamais se reproduz em uma República.
As primárias dos partidos agora acabaram. Agora sim, começará a verdadeira primária, a primária do país. Os franceses têm duas perguntas a serem feitas: eles desejam a alternância? E, se sim, com qual projeto, qual presidente e qual maioria?
Você não teme que a crise aumente a polarização do debate político, reduzindo o campo do centro?
Como a toda eleição, nós tentaremos reduzir o debate à bipolarização. E como a cada eleição, nós iremos fracassar nesta tentativa. Eu garanto que o nosso eleitorado hoje é maior do que em 2006.
Não se engane: muitos franceses desejam uma alternância, eles desejam virar a página Sarkozy, no entanto, eles mão querem designar todos seus poderes ao PS. Acima de tudo, ele desejam que a gente diga a verdade e lhe proponha um caminha crível para a alternância.

Entrevistado por Patrick Jarreau e Pierre Jaxel-Truer
Originalmente disponível em

Oscar Berg,
Brésil, Le 26 Octobre 2011               

               

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sondagens (Out/11) - CSA

Franceses confiam cada vez menos no governo Sarkozy/Fillon, e segundo as últimas sondagens estariam preparados para recolocar os socialistas de volta no Élysée com mais de 60% dos votos.




          Com uma aprovação tão baixa do atual presidente, é evidente que a direita francesa procura uma solução para a corrida presidencial e não descarta ter outro candidato a disputa do que Nicolas Sarkozy, a avaliação de popularidade mais favorável ao primeiro-ministro François Fillon o coloca em posição de reclamar sua candidatura, assim como o número 1 da UMP, Jean-François Copé, mas o nome do braço-direito do ex-presidente Jacques Chirac, Alain Juppé também faz a cabeça da direita. Abaixo podemos ver um gráfico de qual candidato deveria representar a direita na eleição presidencial deste ano conforme sondagem da CSA.


          Em azul os dados dos simpatizantes da direita e em vermelho dos simpatizantes da UMP


Um socialista claramente à frente

                O retorno de um socialista ao Élysée parece mais próximo do que nunca com a última sondagem divulgada pela CSA, BFM-TV, RMC e 20 Minutes, conforme as 859 pessoas pesquisadas, teríamos os resultados abaixo:  



              Podemos perceber claramente que François Hollande foi o candidato que mais se beneficiou de um avanço nas sondagens desde setembro, principalmente devido a realização das primárias socialistas mas também acredita-se que ele tenha se beneficiado da saída da disputa de Jean-Louis Borloo, ex-ministro de Nicolas Sarkozy. Em um segundo turno contra Sarkozy, o candidato socialista venceria com uma enorme vantagem, apenas menor do que a registrada por Jacques Chirrac em 2002 contra Jean-Marie Le Pen, sob a Vª República.


O Partido Socialista pós-primárias

                Uma das perguntas que mais tem feito a cabeça dos cientistas políticos franceses é como sai o Partido Socialista francês após a realização das Primaires Citoyennes, ainda segundo as sondagens da CSA, 59% dos pesquisados pensam que o PS saiu mais unido e forte após as primárias (na última pesquisa, quando a pergunta era como o PS sairá... apenas 35% acreditavam nesta hipótese), 25% acreditam que o PS saiu enfraquecido e dividido (antes eram 46%) e o restante ficou não havia se decidido ou não respondeu a pergunta.
            Ainda em relação ao fator primárias, outro dado interessante é de que após o sucesso das Primaires Citoyennes, a maioria dos simpatizantes da direita acredita que a UMP deveria realizar primárias abertas a todos os franceses para definir seu candidato em 2017 (próximas eleições).

           Em primeiro plano a opinião dos simpatizantes da direita e abaixo deste apenas os da UMP.

François Hollande: Qual esquerda?

                Outro aspecto interessante trazido pelas sondagens da CSA foi como os franceses enxergam o projeto que François Hollande apresenta para a presidência em relação a ser de esquerda ou centro-esquerda, sendo que a grande maioria dos franceses acredita que o projeto de Hollande é de centro-esquerda e apenas 19% como verdadeiramente de esquerda. No entanto, este dado poderá mudar pois a aliança feita entre Hollande e Ségolène Royal e Arnaud Montebourg no segundo turno das primária pode levar o candidato presidencial a pender um pouco mais a esquerda.

Operariado francês, um apoio crucial
                Na última eleição francesa, Nicolas Sarkozy se elegeu graças a um discurso que encantou o operariado francês (vide seu discurso à França que sofre em Charleville-Mézières em 2007), acreditava-se até então que a poqueluche do operariado seria Marine Le Pen com seu discurso de extrema-direita, no entanto conforme novamente as pesquisas da CSA isto não se registra: François Hollande é o preferido dos operários (Hollande – 28%, Le Pen – 26%, Sarkozy – 18%), uma classe, que vale lembrar, custuma votar na direita e não se identifica, normalmente, com os socialistas. Entre a classe média (esta sim de domínio tradicional do PS), FH impõe uma larga vantagem já no primeiro-turno.

Apostas de FrancePo

                Uma parte muito complicada do Post, mas vamos lá: FrancePo aposta em uma primeira colocação para François Hollande no primeiro-turno, no entanto, com a surpresa de disputar o segundo com a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, tendo Sarkozy em terceiro lugar no primeiro turno com pouco mais de 20%. Mais abaixo, teremos uma candidatura muito desfavorável aos verdes (após bons resultados nas eleições européias e legislativas) e algo em torno de 10% reservado ao candidato de esquerda (o mais próximo do que conhecemos como esquerda) Jean-Luc Mélenchon, em virtude da baixa votação nos verdes e a evidente morte dos trotskystas e comunistas.


Oscar Berg,

Brésil, le 20 Octobre 2011.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

PS pós-primárias: Uma visão da direita

               

Resultados Primárias Socialistas
PS pós-primárias: Uma visão da direita


                No último domingo, quando o processo de escolha do candidato socialista que enfrentará Sarkozy chegou ao fim, a UMP tornou pública o seu julgamento do Partido Socialista pós-primárias como “dividido” e François Hollande como “sem experiência nacional”.
                No apagar de luzes das primárias socialistas, importantes figuras do UMP foram aos canais de televisão e às rádios para colocar em dúvida a legitimidade da vitória de François Hollande. A porta-voz do governo Valérie Pécresse disse que “estas primárias mostraram uma fratura interna no PS” entre a esquerda sectária (M. Aubry) e a esquerda mole (F. Hollande). Na mesma noite da divulgação dos resultados das primárias, mais uma vez sob as câmeras do Journal de 20 Heures da France 2, Laurent Delhahouse recebeu o número um da UMP, Jean-François Copé, que mais uma vez manteve fortes discussões com os socialistas presentes (desta vez foram Manuel Valls e Benoît Hamon, apoiadores de Hollande e Aubry, respectivamente), Copé se usou do fato de que tanto Valls (ex-candidato das primárias ligado à ala direita do PS) e Arnaud Montebourg (ex-candidato esquerdista) apoiaram François Hollande no segundo turno das primárias, para afirmar que os socialistas deveriam explicações aos franceses, já que Valls e Montebourg representavam dois infinitos dentro do partido, o que não concebia o apoio ao mesmo candidato. Ainda sobre este fato, o ministro dos transportes, Thierry Mariani, usou de seu tempo na mídia para fazer piadas: “Francamente, ver Arnaud Montebourg e Manuel Valls se dar as mãos e se auto cumprimentar em torno da mesma candidatura daria um bom filme cômico”
                Em geral a visão da UMP sobre o pós-primárias para o PS é de ter um candidato mal eleito e uma primeira-secretária desacreditada, segundo os direitistas, os 55% dos sufrágios obtidos por Hollande não dão legitimidade suficiente a ele para ser candidato a presidência e Martine Aubry não poderia retornar ao comando do partido, uma fez que falhou na sua candidatura a presidência pelo PS. Jean-François Copé calculou que François Hollande deveria ter obtido 70% para ter legitimidade suficiente, ainda mais por todos os candidatos derrotados no 1⁰ turno terem lhe apoiado, para ser o candidato a presidência. Segundo Nadine Morano, delegada geral da UMP, Martine Aubry “deveria se demitir do comando do partido”.
                Ainda sobre François Hollande, Nadine Morano diz “eu constatei também que os eleitores desta primária preferiram a inexperiência nacional e internacional de um François Hollande à ex-ministra e dama de ferro da lei das 35 horas, da qual a França tem tido dificuldades para se recuperar”.

                                 Conforme a UMP: À ela resta a demissão do PS, à ele falta legitimidade.
               O discurso da UMP é claro que não poderia ter sido diferente ao final de primárias tão contestadas por eles. As primárias continuam a tirar o sono do governo direitista francês, primeiro pelo grande engajamento de quase 3 milhões de franceses no segundo turno desta eleição, pela escolha do candidato com melhores chances de bater Sarkozy e pela abertura democrática que os socialistas obrigaram os outros partidos a entrarem, apenas para citar que na última semana a UMP decidiu internamente que seria François Fillon seu candidato as eleições legislativas em Paris, sem nenhuma consulta a seus militantes.
                Se há uma coisa na qual a direita está certa é a seguinte: “Ser candidato às primárias e ganhá-las não é a mesma coisa do que ser presidente da França” (Ministro T. Mariani), mas não se preocupe ministro, quanto a isso os socialistas já estão bem preparados.

Oscar Berg

Le Brésil, Le 18 Octobre 2011


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Resultados Primárias Socialistas

François Hollande – O nome da alternância

                Após um belo processo democrático os socialistas franceses finalmente puderam anunciar o nome  do candidato à alternância em 2012: François Hollande.
           
     O deputado da Corrèze, que era também o candidato de FrancePo às Primárias Socialistas, conseguiu em nível nacional 56,6% dos votos contra 43,3% da prefeita de Lille, Martine Aubry.
               

   No mapa ao lado é possível conferirmos os departamentos franceses onde prevaleceram o voto em cada candidato, note-se que Martine Aubry venceu apenas em seu departamento de sua cidades (Nord), em seus vizinhos (Seine-Maritime, Somme e Pas-de-Calais). Hollande aumentou sua vantagem no sul da França e conquistou algumas regiões importantes onde Martine Aubry tinha vencido no primeiro turno (como na cidade de Lyon). Ainda assim, Aubry manteve-se como maioria em Paris.




“François Hollande é o nosso candidato, eu colocarei todas minhas energias e toda minha força  para que ele seja o próximo presidente da República.”
                                                                                                            Martine Aubry

                À seguida do anúncio dos primeiros resultados das primárias do PS, a ex-primeira secretária do Partido Socialista e candidata nas primárias, Martine Aubry, felicitou calorosamente François Hollande, o qual ela julgou que a partir daquele noite ele seria seu candidato, “as primárias o tornaram ainda mais legítimo para o combate contra a direita e a extrema-direita”. Ainda em seu discurso, Aubry anunciou que retomará as funções de primeira-secretária do PS, substituindo Harlem Désir, o primeiro-secretário interino. Resta saber qual o papel de Aubry na futura dispuita presidencial, ainda mais depois de um segundo turno difícil no qual ela fez muitas acusações a Hollande, incitando-o como homem da esquerda imprecisa.


Oscar Berg,
Brésil, Le 17 d’Octobre 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Resultado Primárias - Ségolène Royal




Ségolène Royal: O medo Sarkozy evita um belo sonho


Após a divulgação dos resultados, Ségolène não consegue evitar as lágrimas ao deixar seu QG


                Foram 17 milhões de votos no segundo turno da eleição presidência de 2007, a maior votação recolhida por um socialista desde 1995. São centenas de blogs, milhares de militantes ortodoxamente engajados em seus ideais nas principais redes sociais mundiais, o website político mais influente da França nos últimos anos. É extremamente calorosa sua recepção na França do Além-Mar, nos distritos, subúrbios e municipalidades mais sensíveis. No entanto, Ségolène Royal, apesar de todos os fatores acima jogando a seu favor, não ultrapassou a marca de 10% de 2,5 milhões de votos nas Primaires Citoyennes, uma imensurável decepção.

                Todo esse fracasso não representa sob nenhuma hipótese ma diminuição da popularidade de Ségolène Royal ou uma má avaliação de suas políticas voltadas a virada ecológica da sua região de Poitou-Charentes, mas um medo crescente  dos franceses em reviverem o fracasso de 2007, de terem que por mais 5 anos viverem o superpresidencialismo de Nicolas Sarkozy, o qual muitas franceses elencam Ségolène Royal como grande responsável.

                É claro que não cabe apenas a Ségolène Royal a derrota de 2007, mas seu discurso nas primárias – que pouco mudou e incorporou uma quantidade insuficiente de novas ideias em relação ao de 2007 – aproximaram a esquerda deste pensamento errôneo.


Ségolène em um encontro do MJS, seu prestígio entre os militantes socialistas deve se manter intocável


                O fator decisivo portanto, para a tão gritante quanto surpreendente derrota de Ségolène foi a sua postura ainda muito ligada a 2007, um passado recente que os socialistas franceses desejam esquecer e superar com uma grande vitória em 2012, e essa vitória, conforme claramente mostraram os franceses, não estaria a altura de Ségolène Royal. Seu acerto é de não repetir aquilo que Lionel Jospin fez há dez anos atrás na sequência da sua maior derrota (a do primeiro turno das presidências de 2002 face a Jean-Marie Le Pen), de desistir de sua careira política. O sucesso da administração de sua região, sua enorme admiração nos bairros populares são apenas dois exemplos do porquê ela deve continuar ativa no PS, pois como ensinou o mestre Mitterrand, as belas derrotas são aquelas que preparam as próximas vitórias.





Oscar Berg,

Brésil, le 13 Octobre

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Resultado Primárias - Arnaud Montebourg


Arnaud Montebourg – A França do não
Lições do Sucesso - Arnaud Montebourg convidado do Journal de 20 heures da France 2, tornou-se o árbitro do 2° turno

                Para quem acompanha as primárias do PS como ferramenta de análise para determinar como anda o movimento socialista internacional – em particular o francês e europeu – o voto em Arnaud Montebourg nos aponta uma mudança no pensamento dos franceses: o Partido Socialista francês que sempre foi um entusiasta do internacionalismo, da integração européia e muitas vezes da globalização viu nascer dentro de si um movimento que, em certa medida, tenta caminhar na direção contrária – a do protecionismo e desglobalização.
                Ainda que Montebourg não tente, conforme divulgado por seus opositores políticos (leia-se UMP) e jornalistas não simpáticos à esquerda, transformar a França em uma ilha, seu projeto (intitulado “La Nouvelle France”) avança demasiadamente sobre as linhas protecionistas. Manuel Valls, concorrente de Montebourg nas primárias, discursou que não se pode promover a desglobalização; evidentemente a declaração do deputado ligado à ala direita do PS não foi bem recebida no conjunto de socialistas. Mesmo em função da recepção ruim da declaração, não podemos deixar de considerar que Valls, em certa medida, está certo:  Como poderia a França, o pilar da União Européia, ator internacional com status de potência regional de primeira ordem deixar de lado o plano internacional e focalizar apenas o doméstico? (muito parecido ao dilema norte-americano do pós-guerra) Como poderia a França proteger-se unilateralmente das delocalizações e importações de países magrebinos e asiáticos, uma vez que está inserida em uma grande comunidade de integração política/econômica continental?
                Por mais que Arnaud Montebourg procure explicar a aplicação de suas idéias de desglobalização, protecionismo francês e europeu, tutela dos bancos e fundação da VIª República Francesa, em seu livro Des idées et des rêves (publicação ainda inédita no Brasil), continuaremos a ter dúvida  da possibilidade real destas políticas serem adotadas em um curto espaço de tempo. O voto em Arnaud Montebourg nos é uma rara oportunidade para conhecermos o que os franceses, em um momento de uma profunda crise econômica, pensam  em relação a globalização, a internacionalização do capital financeiro e a ação sem limites dos bancos, colando a prova a imagem que a nossa esquerda radical-comunista, trotskista, leninista e marxista nos vende, que estes fenômenos estariam a serviço e serviriam aos interesses dos países ricos e desenvolvidos, para legimitimar seu domínio no Sistema Internacional, o enriquecimento de sua população simultâneo a miséria dos demais povos.   
                Em uma primeira análise, os 450 mil votos recebidos por Arnaud Montebourg nos provam, que esta imagem vendida por esta parcela de nossa esquerda é desprovida de evidências e em despasso com a realidade.



Oscar Berg,
Brésil, Le 13 octobre 2011


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

1° turno das Primaires Citoyennes


Resultados do 1° turno das Primaires Citoyennes

                Quando o primeiro-secretário interino do Partido Socialista, Harlem Désir, convocou a mídia para dar algumas cifras dos resultados das Primaires Citoyennes, as primárias organizadas por seu partido conjuntamente ao Partido Radical de Esquerda, elas já representavam um grande sucesso, mas nada comparável ao que ainda viria no mesmo dia: aquela altura, com menos da metade do tempo de votação passado, mais de 700 000 simpatizantes da esquerda já tinham votado, exatamente 2/3 do esperado para todo o dia.

                Ao final do memorável 9 de Outubro, mais de 2,5 milhões de simpatizantes da esquerda passariam pelos colégios eleitoras que foram organizados, superando em muito a expectativa de pouco mais de 1 milhão de votantes, causando, inclusive, problemas na recepção dos eleitores em alguns deles.

                Dado o enorme sucesso do comparecimento nas primárias, os primeiros resultados tardaram a serem divulgados, esperados para as 19hs chegaram apenas as 20hs durante os tradicionais jornais dominicais franceses (uma espécie de Fantástico). Tive a oportunidade de acompanhar o Journal de 20 heures da France2, no qual seu apresentador, o popstar Laurent Delahousse, conseguiu os primeiros resultados diretamente de Solférino, a sede dos socialistas. Àquela altura os resultados de 160 000 votos mostravam uma tendência que se seguiria: François Hollande, à ocasião, muito a frente dos outros candidatos com mais de 40% dos votos, Martine Aubry em segundo lugar com 30%, um surpreendente Arnaud Montebourg batendo a casa dos 20%, uma decepcionante Ségolène Royal seguida de perto por Manuel Valls e, como previsto, Jean-Michel Baylet em último lugar com os 1% de votos que manteria até o final da contagem de votos.

                Os últimos resultados disponíveis no site oficial das Primaires Citoyennes (atualizados às 24hs de Paris) revelavam, com 94% das urnas apuradas, os resultados praticamente definitivos:



Candidato
% dos votos apurados
Total de votos (milhares)
François HOLLANDE
39
996
Martine AUBRY
31
778
Arnaud MONTEBOURG
17
440
Ségolène ROYAL
7
174
Manuel VALLS
6
144
Jean-Michel
BAYLET
1
16

                Os resultados acima apontam algumas definições claras: François Hollande e Martine Aubry disputarão o segundo turno, e com uma eleição ainda aberta, já que FH não conseguiu se distanciar conforme o esperado; Arnaud Montebourg fez uma excepcional votação e será o árbitro deste segundo turno;  Ségolène Royal obteve um resultado abaixo do esperado e muito abaixo de sua capacidade; Manuel Valls na sua estréia nas grandes disputas do PS marcou pontos para o futuro e Jean-Michel Baylet veio ao que se propôs: tornar as primárias não apenas socialistas, mas cidadãs e reivindicar um passado radicalista de esquerda.

Oscar Berg,
Brésil, le 10 Octobre 2011