segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dica de filme – Mort d’un Président (França/2011)

Dica de filme – Mort d’un Président (França/2011) 
 
A imagem acima, real, mostra a visita de Pompidou (à direita) e Nixon à Islândia, o evento é o primeiro a ser retratado no filme de Aknine.

               Bom, como todos estão percebendo muita coisa (ruim) está ocorrendo a Europa e a França tem sido o centro político de todos estes eventos: Cúpula de Bruxelas, G20, etc. As notícias tem sido muitas e impedem que um blog de análise possa, a todo o momento, escrever um artigo analisando todos os acontecimentos. Proponho portanto, um post diferente de todos os demais: uma dica de filme!
                Assunto, claro que não tem faltado então, porque um filme? Primeiro vou apresentar o filme, isso servirá de resposta à pergunta anterior. Mort d’un Président (França/2011 90min) retrata os últimos dias de vida do presidente francês Georges Pompidou, que governou a França entre 1969-1973 e foi um importante presidente para o país do Hexágono, coube a ele a difícil tarefa de ocupar a presidência após a saída do General De Gaulle em 1969. Mais do que apenas retratar aspectos pessoais da vida de Pompidou, o filme do diretor Pierre Aknine retrata um importante momento da vida política francesa: o surgimento da UDF (Union pour la Démocratie Française – União para a Democracia Francesa, antecessora da MoDem de François Bayrou, do qual nós falamos no post anterior) substituindo a gaullista UDR (Union des Démocrates pour La République - União dos Democratas para a República) como primeira força da direita francesa, um fenômeno comparável irá ocorrer apenas nos anos 70 e 80 na transição dos comunistas para os socialistas como primeira força da esquerda.


Chamada na France3 do filme Mort d’un Président (exibido em 12/04/2011, no Brasil o filme está em cartaz no canal pago TV5 Monde).

O poder pelo poder

                Tornando a coisa um pouco mais tropical, poderíamos comparar os últimos dias de Pompidou aos do nosso ex-vice-presidente Zé de Alencar? Não!
                Não, a resposta é simples, ao passo que nosso ex-vice tenha nos seus últimos dias e meses travado uma luta pela vida (o que não torna heróica a sua morte, apenas semelhante a de milhões de outros brasileiros), o ex-presidente francês travou uma luta pelo poder: por diversas vezes Pompidou declara a sua mulher, claramente a favor de sua saída do poder, que não poderia simplesmente deixar a presidência pois os franceses tinham esperanças em torno dele e o amavam, assim “como decepcioná-los?”
                Mais do que retratar o sofrimento pessoal de Pompidou e sua família, o filme tratou de retratar sua luta por indicar seu sucessor, de sua luta para permanecer até o final de suas capacidades frente ao poder e por imacular-se na lembrança nacional. Uma cena ímpar do filme é a negociação de Pompidou e seu escolhido à sucessão, Valéry Giscard d’Estaing (VGE) para que este último levasse adiante seu projeto de construir um centro multicural, o futuro Centre National d’art et de Culture Georges-Pompidou em Beaubourg/Paris. VGE se comprometeu com a idéia do presidente doente, levou a disputa por sucedê-lo e terminou por entregar o centro em 1977.

Jean-François Balmer interpreta o Presidente Pompidou. Na cena, a mídia começa a cobrir sua doença.

Não ao aventureiro Mitterrand: Chirrac, o futuro da República!

                De uma coisa eu fiquei convencido ao assistir Mort d’un Président, Jacques Chirac seria, mais cedo ou mais tarde, presidente da República. Em 1973, quando os problemas de saúde de Georges Pompidou se tornaram um problema de primeira ordem na agenda de seus conselheiros, Marie-France Garaud e Pierre Juillet, estes dois gaullistas de corpo e alma tornaram o então ministro da agricultura Jacques Chirac como sua grande vedete e principal nome a sucessão de Pompidou, o que não se concretizou apenas dado à obsessão de Pompidou em impedir sua nomeação e avançar na idéia de ter Giscard d’Estaing como sucessor. Chirac, conforme mostram as últimas imagens do filme seria nomeado Primeiro-Ministro de Valéry Giscard d’Estaing em 1974 (Chirac, um confesso gaullista seria primeiro-ministro outra vez entre 1986 e 1988 na era Mitterrand, antes de ser eleito presidente pela primeira vez em 1995). Outra cena memorável em relação a Jacques Chirac é o contragosto do então presidente Pompidou ao nomeá-lo Ministro do Interior (um dos ministérios mais importantes da República Francesa) em 1974, em uma aparente vitória de Garaud e Juillet.

Marie-France Garaud e Pierre Juillet, conselheiros de Pompidou tentam emplacar o jovem Chirac (abaixo à direita) como sucessor de Pompidou na presidência.
             Além de Chirac, outro futuro presidente francês que é retratado no filme é François Mitterrand, ainda que o presidente socialista não apareça pessoalmente no filme, seu nome é citado diversas vezes, sobretudo nas reuniões secretas promovidas pelo ministro Michel Debré. Mitterrand é também um personagem importante na “união” em torno do nome de Giscard d’Estaing (VGE), grupos gaullistas resistentes a Pompidou, como o liderado por Debré (inimigo de Pompidou dentro do espectro gaullista) aceitam o apoio a VGE,  ou um silencioso apoio ao ex-primeiro ministro Chaban-Delmas (rival da maioria dos gaullistas - candidato do centro à sucessão de Pompidou) para evitar a vitória do “aventureiro” Mitterrand.
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                Uma coisa que me ficou a mente com todas as intrigas, disputas de poder, confrontos de facções do partido ao olhar aos 90min de Mort d’un Président foi como deve ter se dado a corrida interna ao Partido dos Trabalhadores (Brasil) na sucessão de Luís Inácio da Silva. No final podemos perceber que, não importando ser de direita ou esquerda, o homem é sedento pelo poder, se ele não pode controlá-lo diretamente, logo trata de designar alguém próximo para mantê-lo. Esperemos que no Brasil a decisão de Lula tenha sido mais acertada do que a de Pompidou ao escolher Giscard d’Estaing. Por ora, queria que vocês analisassem o pequeno trecho da obra-prima terminal de George Orwell, 1984, no qual a personagem O’Brien, todo poderoso do partido dominante em Oceania, descreve seus objetivos e os do partido: 

“De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que 'só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade - só o poder pelo poder, poder puro.'
                                                                              George Orwell 1984

Para ver « Mort d’un Président »

O cenário merece elogios, muito bem preparado. No detalhe “o” carro presidencial da época, um Citroën DS
                    O filme Mort d’un Président foi feito exclusivamente para a televisão e foi exibido pela primeira vez em 12/04/2011 na rede de canais France3 (que o próprio Pompidou criou quando presidente). No Brasil, o filme foi exibido pela primeira vez em 04/11/2011 no canal pago TV5 Monde. Por enquanto resta ficarmos na torcida que ele seja reexibido, pois pelo momento não é possível encontrá-lo nem para download nem para compra pela internet. Qualquer novidade em relação a isto, FrancePo imediatamente informará, pois Mort d’un Président é sem dúvida um filme que não deve ser desconsiderado em estudos da França da Vª República.




Um trecho do filme, mostrando o relacionamento de Pompidou com seus conselheiros Marie-France Garaud e Pierre Juillet.

Para saber mais indico o blog abaixo (em francês).



Oscar Berg,
Brésil, Le 7 Novembre 2011

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