quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Qual exílio para franceses e belgas?

Entre fortunas e equipes de futebol, a fronteira belga-francesa esteve movimentada ao longo de 2012

As relações entre a França e a Bélgica deram o que falar neste ano. Não tanto pela recepção do novo presidente francês por Bruxelas, mas sobretudo por assuntos bem originais nas relações entre os dois vizinhos.

O star francês Gérard Depardieu partiu para a Bélgica para escapar dos altos impostos franceses...


Primeiramente, o ano foi marcado por ricaços franceses que cruzaram a fronteira em busca de vantagens fiscais. Em um primeiro momento, foi o executivo francês Bernard Arnault, o homem mais rico da França e também da União Europeia, cuja fortuna é estimada em 41 bilhões de dólares (fazendo dele o quarto homem mais rico do mundo em 2012 pelos dados da Forbes), que pedira ‘exílio fiscal’ na Bélgica para fugir dos altos (altíssimos) impostos de sucessão franceses (que se elevam à 40% contra 3% do lado belga). Após o executivo, foi o ator francês Gérard Depardieu que deu início ao processo de naturalização belga, tendo adquirido uma residência no país (próximo à fronteira com a francesa Lille) e entregado seu passaporte francês, buscando igualmente fugir de suas obrigações com o fisco francês.

Em face da polêmica, o ministro dos negócios estrangeiros belga, Didier Reynders, declarou que a Bélgica estaria pronta a estender a mão aos franceses que buscam o ‘exílio fiscal’, deixando claro que a França deveria “assumir as conseqüencias de um sistema fiscal que conduz seus cidadãos nacionais a deixarem o país”. O sistema fiscal belga é o mesmo desde 1830, ao passo, que o francês sofre constantes modificações de acordo com a mudança dos governantes e a alternância da direita e esquerda no poder. Procurando restabelecer a calma em um caso que suscitou inúmeras reações dos dois lados da fronteira (o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault taxou a fuga fiscal de Depardieu de patética5), o ministro belga tratou de lembrar que seus concidadãos atravessam a fronteira para fazer compras na França devido ao imposto sobre o consumo (TVA – Taxa sobre o valor acrescentado) ser menor do lado gaulês. Vale lembrar que ainda que ambos os chefes de governo francês e belga sejam socialistas (Elio di Rupo, o atual primeiro-ministro belga desde dezembro de 2011, que esteve inclusive presente na campanha de François Hollande em janeiro deste ano), uma crise mediática não foi evitada no caso do ‘exílio fiscal’.

Mas nessa quarta-feira, o ‘exílio’  tomou a direção contrária. Ou seja, desta vez, são belgas cruzando a fronteira em busca de vantagens na França. Contudo, não se trata de nenhum grande executivo ou ator renomado belga que procura se instalar no Hexágono, e sim... uma equipe de futebol!

Assim, ainda que os impostos franceses não sejam bem vistos pelos belgas, pelo menos o futebol dos gauleses continua admirado do outro lado da fronteira, a ponto de uma grande equipe da primeira divisão belga – o Standard de Liège, uma das equipes mais ricas do país de Jacques Brel e Tintim – dar a entender que iria aderir à 1ª Divisão do Futebol Francês.

...enquanto o dirigente belga Roland Duchâtelet procura a França  para aumentar direitos de imagem de seu time.


Roland Duchâtelet, o presidente do clube de Liège – a quarta cidade da Bélgica – defende a criação de uma liga de futebol reunindo clubes belgas e holandeses – oito clubes belgas e doze holandeses, buscando respeitar um critério demográfico, explica logo o dirigente belga - a fim de evitar a morte natural do campeonato belga. A criação da Beneliga seria necessária para que os clubes belgas pudessem recuperar direitos televisivos que perderam para outros clubes europeus nos últimos anos. Segundo Duchâtelet «Há 15 anos, os clubes belgas tinham o monopólio do futebol na Bélgica, as transmissões televisivas apenas mostravam jogos belgas, mas, hoje em dia, estamos numa situação de forte concorrência com a Premier League, a Liga Espanhola ou a Bundesliga Alemã, é um problema existencial, não o reconhecer seria uma idiotice». 

Duchâtelet estabeleceu o prazo de dois anos para a criação do campeonato belga-holandês, o qual já teria o apoio dos maiores clubes das antigas Províncias Unidas, a saber: Anderlecht e Bruges (belgas) e Ajax e PSV Eindovhen (holandeses).

Caso o prazo não seja respeitado e o projeto não seja levado adiante, o Standard de Liège irá aderir a Liga francesa, o que segundo o presidente do clube, é legalmente possível, caso os franceses estiverem de acordo. Exílio ‘televisivo’, ‘mediático’?

Segundo Arnaud Rouger, diretor de atividades esportivas da Liga de Futebol Profissional (LFP) da França, a equipe belga não poderia participar da Liga Francesa apenas através de um pedido, pois tanto FIFA como UEFA – instâncias superiores do futebol internacional – não autorizam as federações, como a LFP, de englobar clubes que não pertençam ao seu território nacional. Além disso, seria necessário que a equipe belga fosse uma sociedade de direito francesa. Ainda segundo Arnaud Rouger, a equipe de Liège já havia se informado junto à LFP da possibilidade de integrar a Liga Francesa há 6-7 anos, mas nenhum pedido oficial foi requisitado.

Não fechando a porta totalmente aos belgas, Rouger declarou que “a questão poderia ser estudada, mas há inúmeros obstáculos para conseguir-se alguma coisa”.

Realmente parece que não são apenas as grandes fortunas francesas que sofrem da falta de ‘solidariedade’ dos responsáveis nacionais, mas os clubes de futebol estrangeiros que buscam exílio ‘televisivo’ na França também!

Leituras complementares e fontes

[1] Sudpresse (Jornal francófono belga): « Roland Duchâtelet ameaça : é preciso a Beneliga dentro de 2 anos ou o Standard vai jogar ... na França ».  Disponível em: http://www.sudinfo.be/630594/article/sports/foot-belge/standard/2012-12-26/roland-duchatelet-menace-il-faut-la-beneliga-dans-2-ans-ou-le-standard-ira-

[2] Dernière Heure (Jornal francófono Belga): «Impossível de ver o Standard jogar na Liga 1». Disponível em : http://www.dhnet.be/sports/standard/article/419369/impossible-de-voir-le-standard-jouer-en-ligue-1.html

[3] Le Monde (Jornal francês): « A Bélgica se diz pronta para acolher os exilados fiscais franceses » Disponível em: http://www.lemonde.fr/economie/article/2012/12/18/la-belgique-se-dit-prete-a-accueillir-les-exiles-fiscaux-francais_1807679_3234.html

[4] Sobre a participação de Elio di Rupo na campanha de François Hollande, ver: RTL Info (Site de notícias belga): « Por que Elio di Rupo irá aplaudir François Hollande ». Disponível em : http://blogs.rtl.be/carnetpolitique/pourquoi-elio-di-rupo-ira-applaudir-francois-hollande/

[5] Declaração do Primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault sobre o exílio de Depardieu. Disponível em: http://www.dailymotion.com/video/xvuf3j_ayrault-le-depart-de-gerard-depardieu-est-minable_news#.UNvRUOT7LSs

Oscar Berg,
Brésil, 26/12/2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Serra, seja Jospin!



21 de abril de 2002. O socialista francês Lionel Jospin reúne sua equipe de campanha e seus militantes para fazer seu discurso após o fracasso do PS na eleição presidencial francesa daquele ano na qual ele, pela segunda vez, representava os socialistas. Jospin não esconde seu desapontamento com os resultados, afinal ele era primeiro-ministro até então e ainda por cima bem avaliado, toma a responsabilidade pela derrota e por final, se retira da vida política francesa.

28 de outubro de 2012. O tucano José Serra reúne sua equipe de campanha e seus militantes para discursar após a terceira derrota em eleições majoritárias nesta década. Após ter sido duas vezes derrotado na corrida presidencial, Serra desta vez perde para o novato Fernando Haddad na disputa da prefeitura paulistana. Serra discursa em consonância ao seu pronunciamento de 2010 (na sequência da derrota à também novata Dilma Rousseff): não se responsabiliza pela derrota, nem a lamenta profundamente, pelo contrário. Asfixiado, disse que saíra da eleição com ainda mais energia, mas que sinceramente não sabia no que empregá-la. Engana a si mesmo, e só.

Esse texto procura ajudar Serra a encontrar um bom emprego para tanta energia: largar a toalha e abandonar a política, uma tarefa que aliás, requer tamanha energia e que já devia ter sido tomada.

Se a derrota une José Serra a Lionel Jospin, a reação face a ela, os separa. Um reage respeitando a decisão dos eleitores, afinal democrática; outro não a aceita. Retirando-se da política, este avança; Enganado-se na posição de líder, o outro afunda.

A saída de Lionel Jospin não levou automaticamente os socialistas de volta ao poder na França, levaram, ao contrário, 10 anos mais para isso acontecer. Em 10 anos, Jospin tendo saído da vida política francesa e aberto mão da liderança dos socialistas, o PS se reestruturou, adotou novas políticas e abriu espaço para novos nomes. Em 2007 não suficiente, ainda teve de engolir outra dura derrota na presidencial, mas em 2012 deu a volta por cima, e com François Hollande – um nome desligado da era Jospin – retomou o Eliseu.

A esperada (achei ‘provável’ uma palavra muito forte em se tratando de José Serra) saída de Serra também não fará do PSDB vitorioso nas próximas eleições. Muita coisa precisa ser reconstruída. Certamente ainda há Aécio Neves, mas desde FHC o PSDB não faz que queimar seus grandes nomes (Serra de outrora, Alckimin e Aécio), enquanto que sem grandes nomes o PT se fortalece. No entanto, a saída de Serra é necessária: só assim, questões obscuras como o apoio de Silas Malafaia poderá ser revisto e só assim igualmente o partido estará descansado de ter que encontrar um novo cargo para Serra após cada derrota premeditada. Até o povo tucano gostaria que Serra surpreendesse à la Jospin.

Desde 2002, quando deixou a vida política, Lionel Jospin tem se dedicado a outras tarefas: escreve, constantemente é convidado a se exprimir em cadeias de rádio e televisão nacionais, participa dos grandes congressos do PS. Recuperou o devido respeito que qualquer derrota coloca em risco. Após o desmoralizante governo Sarkozy, o novo presidente François Hollande chamou Lionel Jospin para liderar uma comissão responsável justamente por moralizar a vida política. Honra recuperada! Exemplo (apesar de eu desconhecer  José Serra escritor) a ser seguido, ex-tudo Serra!

Em 2010, Serra disse que chegou ao final da campanha – que trouxera mais uma derrota – com a mesma energia com a qual a começara. Em 2012, repetiu – praticamente de forma idêntica – a frase. Errou e repetiu no erro. O PSDB afunda.

O PSDB afunda, resistirá por mais tempo que se esperava provavelmente (ainda tem cartas a queimar e eventualmente dá sorte em ressuscitar um tipo como Artur Virgílio ou ACM Neto). Mas, certamente desaparecerá. A derrota em São Paulo agrava ainda mais a situação e o PSDB começa o projeto 2014 não disputando com Dilma Rousseff o Palácio do Planalto, mas com Eduardo Campos a preferência dos analistas como maior desafiante ao poder petista.

Se o PSDB está nesta situação, muito se deve a Serra: duas derrotas presidenciais não podem ser relativizadas. E se Serra errou, é porque não quis ser Jospin: colocou sempre sua fixação em entrar para história como presidente acima do interesse de seu partido, de “seu povo”, e não desistiu; sequer mudou e apenas seguiu irresponsavelmente em frente. Cego, não olhou para o lado e não percebeu que pode-se entrar na história por vários motivos, como fez Jospin, que renunciou ao sonho e abriu espaço para o novo. Serra sufocou o PSDB, ao não dar espaço para o novo. Serra sufocou a democracia, ao se alinhar com as ideias mais conservadoras e reacionárias deste país transferidas pelo discurso fundamentalista evangélico. Serra sufocou a análise crítica, ao não reconhecer sua responsabilidade pela derrota. Serra sufocou a si mesmo. E morreu. No discurso da morte acenou com um “até logo” (2010), quando todos gritavam: Serra, seja Lionel Jospin!

Eu gostaria de ver José Serra ter a coragem de Lionel Jospin.
Ódio a Serra? Não, simplesmente muito carinho pela nossa frágil democracia, que tanto terá uma oposição fracassada, tanto terá um governo irresponsável. Serra, seja Jospin!
Amor a Serra? Tampouco, se aviso é porque simplesmente penso que Serra ainda não tenha tomado conta que a hora de se retirar da política passou. Prezo pela integridade da política: Serra, seja Jospin!

Serra, seja Jospin! Dê Adeus!


Links discursos relacionados:


Pronunciamento Jospin 2002 – Abandono da vida política (em francês) http://www.youtube.com/watch?v=Ux11q2LX4Ms


Oscar Berg,
Brésil, le 28 Octobre 2012


terça-feira, 26 de junho de 2012

Evento FrancePo




Na próxima quarta-feira (27/06) FrancePo convida todos seus companheiros a participar da Palestra "Le Rêve Français - Qui est François Hollande - le nouveau Président français, et quelles sont ses idées pour la France et pour le Monde?" ("O sonho francês - Quem é François Hollande - novo presidente francês, e quais são suas idéias para a France e para o Mundo?") que será realizada com o apoio do Unidiomas nas dependências do Unilasalle Canoas - Centro Universitário La Salle Canoas.

Na palestra serão abordadas as seguintes questões:

* Quem é François Hollande, o novo presidente eleito?

* Qual foi o caminho percorrido por ele até chegar ao Palácio do Eliseu?

* Quais são as principais ideias de François Hollande para a França e para o mundo?

* Quais estão sendo os primeiros passos dados por François Hollande e sua equipe?

*Quais desafios para o novo presidente?

Para abordar o tema de uma forma diferente, a palestra será realizada inteiramente em francês e contará com os alunos do curso de língua francesa do Unidiomas para realizar a interpretação e tradução, possibilitando que interessados no assunto que não dominem a língua do país do Hexágono possam participar também!

Conto com a presença de todos,
para mim será muito importante!

Saudações,
Oscar A Berg

terça-feira, 15 de maio de 2012

A França vira a página Sarkozy


Depois de 17 anos, um socialista volta ao Palácio do Élysée


Da noite de festa do 6 de maio a manhã de 7 de maio, a França amanheceu um novo país, na passagem destes dois dias a França não apenas escolheu um novo presidente, mas um novo destino. O que esteve em jogo na eleição presidencial de 2012 dividida em dois turnos equilibrados e muito disputados foi muito maior que a vaga ao qual destinava-se o pleito. Esteve em jogo, mais do que nunca, o futuro da França, sua escolha entre conformismo ou desafio; divisão ou conciliação e - em momentos de crise da dívida, algo que faz muito sentido - austeridade ou crescimento. No momento em que François Hollande ascende ao topo do Estado Francês, a definição dos desafios acima torna a transição do conservador Sarkozy ao socialista Hollande não apenas uma simples alternância de poder mas uma verdadeira mudança, pois como nos dizia o slogan de François Hollande « A mudança é agora ».

Eu recebo os resultados da eleição presidencial francesa de 2012 mais como um grito de esperança que um grito de desconfiança no presidente Sarkozy. François Hollande conseguiu ao longo do período entre sua candidatura às primárias socialistas e ia vitória no último domingo aquilo que nenhum outro socialista francês havia conseguido desde Mitterrand em 1988: Suscitar a esperança. Certamente a crítica ao saldo do governo Sarkozy-Fillon passou pelo discurso de Hollande, mas não foi a desconfiança dos franceses em relação ao agora ex-presidente que fez o socialista vencer, no entanto, foi a capacidade de suscitar em seu eleitorado aquilo que ele mesmo chamou de « Rêve Français », ou seja, o ideal republicano em que é tornado possível a uma geração viver melhor que a sua predecessora.

Eu recebo o resultado da eleição presidencial francesa de 2012 como uma chance para a Europa. A crise européia atual é vista como uma crise da dívida pública, no entanto, antes disso, a crise européia é uma crise social e política ambas resguardando relações de causa consequência entre si. Social, pois a Europa vive a crise do modelo que criou e defendeu, aquele do bem-estar social. Política, pois esta crise é uma consequência do marasmo da social-democracia européia, que há anos não consegue traduzir as transformações do Sistema Internacional em reformas que continuem a deixar competitivo o sistema produtivo europeu e que deem continuidade ao welfare state como organização estatal de excelência de igualdade e justiça. A combinação das duas crises acima é o desemprego em massa das populações europeias e a desindustrialização contínua  do continente, o que por final emerge um novo risco à democracia e integridade do bloco da UE: o crescimento da extrema-direita.

Eleito em 06 de maio de 2012, com 51,7% dos votos, François Hollande, do Partido Socialista terá a sua frente grandes desafios a corresponder e promessas a cumprir. Sabemos de antemão que caso Hollande venha a falhar em algum dos dois pontos acima, a social-democracia européia terá perdido a chance que lhe foi conferida no último domingo de reerguer-se, e o voto contestatório da extrema-direita baterá a porta dos progressistas. O papel de Hollande na história portanto, transcende a eleição do último domingo e as fronteiras do Hexágono francês e apresenta-se – como ele mesmo declarou em seu discurso da vitória em seu reduto eleitoral, a pequena Tulle – como um alívio, uma esperança à Europa, um ponto final a ideia de que a austeridade é uma fatalidade.






segunda-feira, 30 de abril de 2012

Como votaram os franceses


No último post, no qual apresentei todos os candidatos a eleição presidencial francesa, tracei dois prováveis cenários para o voto francês de primeiro turno, eis que na prática vimos meu primeiro prognóstico ocorrer. Em 2012, os franceses repetiram a fórmula de 2007. Nada a ver com a vitória de Nicolas Sarkozy no primeiro turno, visto que passados cinco anos de governo ele perdeu esta posição para seu desafiante socialista, François Hollande. No entanto, o que notamos foi que os candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) distanciaram-se muito de seus desafiantes. Marine Le Pen, Jean-Luc Mélenchon e François Bayrou, fizeram nesta ordem as posições seguintes do ‘grid de chegada’, como podemos ver na imagem abaixo.






No entanto, nem tudo repetiu-se de 2007 a 2012. Primeiro lugar (mas não mais importante), a primeira posição saiu das mãos da direita e caiu nas mãos da esquerda. Segundo – e mais notável – o terceiro colocado manteve-se na casa de 18% dos votos, mas desta vez, a posição não pertenceu aos centristas da MoDem de François Bayrou, mas aos ultranacionalistas da Front National sob a liderança de Marine Le Pen. Terceira mudança entre essas duas eleições está a posição da extrema-esquerda na eleição, detentora de menos de 2% dos votos em 2012, esse posicionamento está aquém do obtido somente pelo anticapitalista Olivier Besancenot (NPA) com seus 4% de 2007. O fraco desempenho da extrema-esquerda não está apenas na mudança de candidato anticapitalista, mas também pela mudança ocorrida na casa dos trotskystas da Lutte Ouvrière, que confiaram pela primeira vez sua candidatura a outra pessoa que Arlette Laguiller. Nesta dura troca, Nathalie Arthaud conquistou pouco mais que 0,5% dos votos.
Quanto às particularidades de 2012 a mais importante delas foi em relação a votação – pouco expressiva, aquém das expectativas – de Jean-Luc Mélenchon, cuja candidatura fez muito barulho e provocou o ressurgimento do Partido Comunista Francês através da Front de Gauche, mas no final não correspondeu a toda a ambiance gerada entre seus militantes nas últimas semanas de campanha. Tendo começado a jornada do 22 de abril com expectativas de tornar-se a terceira força política da França e criar um domínio paralelo ao Partido Socialista no seio da esquerda francesa, a Front de Gauche falhou em sua tarefa ao obter módicos 11,11% (nas sondagens falávamos entre 14%-16%, com esperanças de romper a barreira dos 18%).
A impressão que temos ao final do primeiro turno é que a França está a beira de importantes transformações políticas, sobretudo de sua direita. Dominante desde o final da 2ª Grande Guerra, o Gaullismo havia posto-se como grande força da direita e a Constituição de 1958 foi apenas o auge de seu domínio que estendeu-se ao menos até o final da presidência de Georges Pompidou (1974) e tomou um novo ar com a eleição de Jacques Chirac (1995,2002) e porque não, seu sucessor Nicolas Sarkozy (2007). O que vemos hoje, é uma disputa dentro da direita, da mesma forma que o Partido Socialista originado do Congresso de Épinay (1971) batalhou com o poderoso aliado de Moscou PCF pelo domínio da esquerda francesa, parece-nos que UMP e FN disputam hoje a direita. De ambos os lados, duas concepções de direita, mas também dois discursos semelhantes. Para não deixar escapar eleitores da FN, Sarkozy e sua trupe (encabeçada pelo número 1 da UMP, Jean-François Copé, pelo primeiro-ministro, François Fillon, e o ministro do interior, Claude Guéant) tem cada vez mais aderido ao discurso anti-imigrante, ao mesmo tempo em que, para agregar cada vez mais simpatizantes à sua ideia de França, Marine Le Pen tem dotado a FN - a qual preside - de um discurso social inovador (Ver Le Monde Diplomatique Brasil abril/2012).
Dois dados estatísticos devem no entanto guardar nossa atenção acerca do resultado da eleição francesa: primeiro, 1 em cada 3 franceses optou pelos extremos do espectro político, e segundo, 1 em cada 5 franceses decidiu-se por candidatos que propunham a saída do euro. A França moderada do respeito e da laicidade, que vê seu futuro na construção européia, a qual nos habituamos a conhecer nas últimas décadas está cada vez mais distante, será necessário que o próximo presidente francês, seja ele, François Hollande ou um Nicolas Sarkozy 2.0, escute esses eleitores.

Oscar Berg,
Brésil, le 1er mai 2012.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Eleições Francesas: Conheça os candidatos, suas propostas e as últimas sondagens

Em uma semana será realizado o primeiro turno das eleições presidenciais francesas, desta forma FrancePo apresenta os candidatos que pretendem assumir o Élysée, que já foi ocupado outrora por grandes nomes como Charles de Gaulle, Pierre Mendès France e François Mitterrand, pontos de vista sobre as questões mais importantes acerca da eleição e as últimas sondagens.

2012, quem são os candidatos?


                 Na sequência você poderá conhecer os candidatos a eleição presidencial francesa, em suma eles se separam claramente em duas famílias, a esquerda com seus representantes, François Hollande (PS), Jean-Luc Mélenchon (Front de Gauche), Eva Joly (Europe-Écologie Les Verts), Nathalie Artahud (Lutte Ouvrière), Philippe Poutou (Nouveau Parti Anticapitaliste) e Jacques Cheminade (Soldarité et progrès) e a direita com o atual presidente francês que tentará sua reeleição, Nicolas Sarkozy (UMP), além de Nicolas Dupont-Aignan (Debout la Répúblique) e Marine Le Pen (FN). Ora encontrando-se a direita, ora a esquerda, teremos mais uma vez a presença centrista de François Bayrou (MoDem) na campanha presidencial.

                Para validar a candidatura cada pretendente a presidência precisou recolher 500 parrainages, ou seja, 500 assinaturas de prefeitos franceses para validar a candidatura. Um dos temas mais importantes até o momento da validação das candidaturas (19 de março) era se Marine Le Pen conseguiria todas as assinaturas, dado que seu partido, a Front National não é muito difundido pela França, mesmo assim ela conseguiu e até mesmo o controverso Jacques Cheminade as conseguiu.

Candidatos da Esquerda

FRANÇOIS HOLLANDE (PS – PARTI SOCIALISTE) – François Hollande esteve a frente do Partido Socialista no momento mais difícil de sua história desde o Congresso de Epinay (1971) quando o partido refundou-se. Hollande tornou-se primeiro-secretário do partido logo após a dura derrota de 21 abril 2002, quando os socialistas não conseguem sequer alcançar o segundo turno, ainda que seu candidato fosse o primeiro-ministro da época, Lionel Jospin, e mesmo com esse cenário conduziu o PS a vitórias memoráveis em eleições cantonais e regionais, recolocando o PS como a grande força da esquerda e a alternativa de poder mais viável à UMP (na época havia o risco de perder o posto ou para a extrema-direita ou para os centristas de François Bayrou). Tendo deixado o cargo de primeiro-secretário do PS em 2008, François Hollande continuou seu percurso como deputado pela Corrèze e presidente do conselho geral desse departamento.

                François Hollande será candidato socialista em um momento muito especial do PS: pela primeira vez o candidato socialista é indicado através de um processo de primárias aberto tanto à seus militante (o que já tinha sido o caso em 2006, na disputa entre Ségolène Royal, Dominique Strauss-Kahn e Laurent Fabius) como também à comunidade francesa em geral, aos estrangeiros que a integram e aos franceses do além-mar e expatriados. Não, que Hollande não tenha boas propostas, um discurso inovador e tenha suscitado a esperança nos franceses, mas caso a sua vitória sua vitória se confirme, ela será dada primeiramente pelo élan fornecido pelas primárias. O impulso dado pelas primárias é tamanho que na sequência das primárias o candidato socialista alcançou 35% das intenções de voto nas sondagens, valor sem validade prática mas grande mostra do sucesso das primárias. Outro ponto positivo fruto do processos de primárias é a unidade da máquina partidária em torno de seu candidato: sabe-se que em 1995 quando da sucessão do socialista François Mitterrand, militantes e responsáveis políticos não concordavam com a candidatura de Lionel Jospin, ambos dividiam-se em diversas alas, uma das mais fortes a do ex-ministro de Mitterrand e um dos arquitetos econômicos da Europa Moderna, Jacques Delors, que não alimentava pretensões presidenciais. Novamente em 2002, Jospin era contestado. Novamente uma derrota. Em 2007 o Partido Socialista encontrava-se tão dividido em brigas internas que Ségolène foi candidata sem mesmo o apoio da presidência do partido, que pasme, era feita por seu marido, François Hollande (ele também com pretensões presidenciais à época, frustradas pelo avanço de sua mulher). Resultados nas últimas três eleições: três derrotas com um grande abismo da direita gaullista e 17 anos sem um presidente socialista. As primárias no entanto, acabaram com este problema, François Hollande é hoje um candidato legítimo, apoiado pela máquina partidária e pelos militantes, talvez até mais que François Mitterrand o tenha sido em 1981 (ano de sua vitória). Através das primárias também, os socialistas conseguiram o apoio importante do partido de centro-esquerda de apelo popular, Parti Radical de Gauche (Partido Radical de Esquerda, sobre o qual já falamos aqui), muito bem estabelecido na França do além-mar (Martinica, Reunião, Guiana Francesa,...)

                Para conseguir agregar o maior número de eleitores possíveis, desde militantes do centro como da esquerda, ou até mesmo da direita humanista chocados com as políticas empreendidas por Sarkozy (como a sua ex-ministra do meio ambiente, Corinne Lapage, que declarou apoio a Hollande), François Hollande guiou sua campanha pelo que ele chamou de Rêve Français, o sonho francês, ou ainda a versão tricolor do American Way of Life, fator de admiração interna e externa. Mais do que isso, o Rêve Français é para Hollande a condição de vitória da França, ou seja, ele é a capacidade de uma geração viver melhor que a sua predecessora. Para restaurar o essa condição, Hollande deseja reduzir o déficit público para 3% do PIB até 2013, criar 60 000 empregos na educação (os quais Sarkozy vem sucessivamente enxugando), criar um banco de investimento público para acelerar o desenvolvimento das comunas e departamentos, empreender uma segunda fase de descentralização, permitir a aposentadoria a 60 anos para aqueles que já tenham 41 anos, instaurar o contrato de geração (Contrat de Génération) no qual a empresa não pagará as cotizações de ambos trabalhadores se manter um sênior até sua aposentadoria ao lado de um jovem de menos de 30 anos, acelerar a construção de residências populares, reformar o Conselho de Segurança da ONU – inserindo uma nação africana, a Alemanha e nações em desenvolvimento, aí entram Índia e Brasil, reduzir a remuneração do presidente em 30%, reformar seu estatuto penal, revisar todas as negociações da União Européia em torno da recuperação dos países atingidos pela crise e diminuir a dependência da França em torno da energia nuclear, reduzindo sua participação na matriz energética de 75% para 50% até 2025.

                Por final, como acreditar que depois de três tentativas fracassadas será a vez dos socialistas retomarem o Élysée? Simples, François Hollande não apenas inaugurou uma nova era no seio do Partido Socialista, afirmando-se sim como Socialista, mas também como Reformista e com grande responsabilidade econômica (por isso de suas propostas de diminuir o déficit público, que não constam em nenhum programa das outras candidaturas de esquerda), como também contará com dois fatores essenciais que nem Lionel Jospin nem Ségolène Royal contaram e que em muito responderam às suas derrotas: a unidade do partido e a confiança dos militantes. Que voltem os Socialistas!





JEAN-LUC MÉLENCHON (FRONT DE GAUCHE/PCF-PG) – Ele é a grande surpresa da eleição. Socialista desafeto, Jean-Luc Mélenchon abandonou o PS em um dos momentos mais conturbados do partido, o Congresso de Reims (2008), que marcou o final da presidência de François Hollande no partido e a eleição da atual primeira-secretária, Martine Aubry. Mélenchon sempre se considerou à esquerda da esquerda do PS e após a eleição presidencial de 2007, na qual Ségolène Royal propôs uma união com o candidato centrista, François Bayrou, derrotado no primeiro turno, percebeu que não teria mais espaço no partido. Pesou para sua saída do PS o fato de que em 2008 na última escolha do primeiro-secretário do partido 80% dos votos se dirigiram a candidatos que foram a favor do ‘Sim’ na eleição do Referendo Europeu para uma Constituição Europeia de 2005 (na qual Mélenchon defendeu o ‘Não’, como a maioria dos franceses o votaria em maio/2005) e da aliança com os centristas do MoDem para bater Sarkozy no segundo turno em 2007.

                Fundador do Parti de Gauche (Partido de Esquerda), inspirado no seu homólogo alemão Die Linke, Jean-Luc Mélenchon logo se entendeu com os comunistas do tradicional PCF que viam seu eleitorado minguar eleição após eleição e formaram a Front de Gauche (Frente de esquerda) que teria como dever formar uma aliança baseada nas tradições das lutas operárias, sindicais e de movimentos sociais. Representando de uma parte o antiliberalismo, de outra o altermondismo e ainda a ecologia política. Para a eleição presidencial de 2012, Jean-Luc Mélenchon as principais propostas do candidato esquerdista são o aumento do SMIC (Salário mínimo interprofissional) bruto para € 1700 (o atual é de € 1398) acrescentando dois euros para cada hora trabalhada, a criação de um salário máximo, diferença máxima de 20 vezes entre a maior e a menor remuneração nas empresas e por final, o salário mínimo não poderá ser menor do que 20 vezes a remuneração média nacional (€360 000/ano), não permitindo assim que nenhuma família francesa viva abaixo da linha da pobreza, sendo que hoje 8 milhões de franceses são considerados pobres. Desta forma, Mélenchon incita seus eleitores a tomar o poder como indica seu slogan oficial Prenez le Pouvoir, as chances de sua aparição no segundo turno não podem ser negligenciadas, mas ao momento, segundo as sondagens, seu maior desafio tende a lutar pela terceira posição contra a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. Ao momento parece também que os votos contestatórios correm as fileiras destes dois candidatos, independente de sua embalagem altermondista (Mélenchon) ou pela pátria (Le Pen).

                A campanha de Mélenchon foi levada à esquerda da esquerda francesa (PS) e segundo algumas vozes críticas, JLM é uma espécie de neo-bolchevique francês, o que fortalece o medo do eleitorado centrista e direitista no caso de sua ida ao segundo turno. Pesa contra Mélenchon as suas posições incertas em relação a Cuba e a China, as quais ele não se julga a altura para poder chamar de ditaduras. Além disso, forte combatente da elite francesa e do Partido Socialista, o qual ele julga ‘amigo da burguesia’ Mélenchon tem um patrimônio alto: 760 000 euros. Demasiado esquerdista, Mélenchon é um Hugo Chávez ou Lula (antes de chegar ao poder) à francesa, mesmo antes de chegar ao poder no entanto, já conhecemos seus problemas: patrimônio demasiado excessivo, luxos excessivos à um esquerdista, etc. Na América Latina conhecemos bem onde o radicalismo de esquerda foi capaz de nos levar, na Venezuela a absurdas faltas de mantimentos e no Brasil a um liberalismo, mais do que jamais, brutal. Resta saber se os franceses estão preparados para uma experiência radical ou se preferirão continuar fiéis a François Hollande e ao moderado Partido Socialista, numa época em que a extrema-direita ameaça, é preciso ser capaz de unir, agrega eleitores. Será Jean-Luc Mélenchon capaz? Guardo minhas reservas.



EVA JOLY (EELV – EUROPE ÉCOLOGIE LES VERTS) – Assim como seu adversário dentro da esquerda (sobretudo da esquerda moderada) François Hollande, Eva Joly também foi nomeada candidata por seu partido através de um processo de primárias, nas quais Eva venceu o carismático apresentador de televisão e ecologista Nicolas Hulot.

                A principal medida de Eva Joly será fazer a França sair do nuclear até 2032, diminuindo sua dependência de energia nuclear de 75% a 40% já em 2020. Ainda articulada a ecologia, outra medida de Eva Joly é a criação de 600 000 empregos ligados à ecologia, sendo portanto, o slogan da candidata verde: ‘Ecologia, a verdadeira mudança’. Em uma primitiva cutucada no slogan de François Hollande ‘A mudança é agora’.

                Após o sucesso dos ecologistas sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit (O Dani le Rouge do maio de 68) nas eleições para o Parlamento Europeu, Eva Joly tem o desafio de estabelecer o ecologismo como uma força política na França, assim como ocorre na Alemanha. No entanto, após começar bem creditada de 11% dos votos, a campanha dos verdes desandou e agora Eva Joly não consegue passar a barreira de 4% das intenções de voto – ficando entre 2 e 3%. Além da polêmica em torno da saída do nuclear, Eva Joly sempre teve de enfrentar o fato de que não era francesa de origem (algo muito explorado pela direita) e sobretudo, sua proposta de retirar o desfile militar da festa da Queda da Bastilha de 14 de Julho, substituindo-o por uma parada de civis. Se é que os verdes conseguirão, parece que o acordo assinado com o PS dando-lhes uma bancada na Assembléia Nacional será mais importante do que a candidatura de Eva Joly para lhes firmarem como uma força na política francesa.



NATHALIE ARTHAUD (LUTTE OUVRIÈRE) – A Luta Operária é um partido político francês de orientação trotskysta desenvolvido sobretudo em meio do operariado francês sindicalizado. Mesmo que pequeno e fragilmente organizado a nível nacional, o partido conseguiu obter interessantes votações nas últimas eleições presidenciais. Montado a imagem de Arlette Laguiller sua grande líder o partido passará por um de seus maiores desafios : existe vida fora Laguiller ? Em um primeiro momento exagerada a pergunta, se a confrontarmos com o histórico do partido nas eleições presidenciais das últimas décadas ela faz total sentido.

Arlette Laguiller é a pessoa que mais vezes disputou a eleição presidencial francesa, até mesmo mais vezes que François Mitterrand! Arlette foi candidata nas eleições de 1974, 1981, 1988, 1995, 2002 e 2007. Aí se vão 6 eleições e 33 anos na função e consideráveis resultados como 2,3% em 1974 (mesmo com a união da esquerda em torno de Mitterrand), 5,30% em 1995 e 5,72% em 2002 (a frente de Robert Hue, do poderoso PCF). Tamanha presença de Arlette Laguiller na história política recente justifica a preocupação em torno da nova geração que toma as rédeas da Luta Operária. Para solucionar este problema, escolheu-se Nathalie Arthaud, que dentre outras competências é fisicamente muito parecida com Laguiller. Dentre as principais medidas da candidata da Luta Operária está a supressão da TVA sobre todos produtos e serviços, a nacionalização de todas as empresas que desejarem expatriarem-se e a unificação de todos os bancos em um único banco controlado pelo Estado. O slogan da campanha de Nathalie Arthaud é: “Os trabalhadores não devem pagar pelas crises do capitalismo”

Nathalie Arthaud (dir): Na Lutte Ouvrière não bastam boas ideias é preciso pois ser parecido com  Arlette Laguiler (esq)




PHILIPPE POUTOU (NPA – NOUVEAU PARTI ANTICAPITALISTE) – O NPA é o representante francês de nosso PSOL, ou seja, um radical aos radicais, seu principal projeto político é a instauração de um Estado Social e a superação do capitalismo. Na última eleição Olivier Besancenot conquistou 4% dos votos no primeiro turno, no usual efeito francês do sucesso da extrema-esquerda à luz do primeiro turno, fenômeno o qual falaremos em uma abordagem futura, na sequência ele criou o NPA, no entanto o partido, assim como seu coirmão brasileiro, tem dificuldades em se impor como um partido de poder mais do que um partido de contestação. Nas eleições de 2012 o candidato anticapitalista será Philippe Poutou, operador de máquinas-ferramentas em uma usina Ford em Blanquefort, na Gironde (sudoeste francês, departamento onde se localiza Bordeaux), apresentando-se como um cidadão comum, não originado das classes políticas, Poutou espera engajar os franceses que se sentem cada vez mais distantes da classe política e das classes dirigentes de sua sociedade.

                As propostas de Poutou encontram-se na alma daquilo que podemos considerar uma esquerda radical e anticapilista, ao exemplo do PSOL como temos visto nas duas últimas eleições no Brasil. Para o mundo do trabalho, Poutou compra uma das maiores brigas da política francesa, a jornada de 35 horas semanais, instauradas pelos socialistas do pS no governo Jospin na transição dos anos 90 ao 2000. Além de defender o respeito às 35 horas, o candidato anticapitalista vai além e propõe uma segunda redução, de 35 horas, a jornada de trabalho semanal francesa passaria à 32 horas, sem nenhuma redução salarial, ou ainda um aumento imediato de cerca de 300 euros ao SMIC bruto. Face a crise da zona do euro, a proposta anticapitalista corre no sentido da anulação da dívida pública, concretizando o slogan do NPA para esta campanha: “Aos capitalistas de pagarem suas dívidas”. Compõe também a saída da crise, o monopólio público sobre o crédito e a criação de 1 milhão de empregos públicos. Em relação a outro tema sensível ao eleitorado francês, a energia nuclear, Poutou defende uma saída imediata do nuclear, o investimento em energias renováveis e o controle público sobre sua criação e administração. Não causando suficiente impacto, Poutou ainda defende o retorno a aposentadoria aos 60 anos, conforme os socialistas do PS o fizeram há alguns anos atrás e continuam a defendê-la.

 No entanto, contra Poutou corre a surpreendente campanha de Jean-Luc Mélenchon que se apresenta como catalisador dos descontentes com as políticas propostas por Sarkozy e Hollande e também a divisão interna de seu partido, sendo que grandes responsáveis políticas do NPA declararam seu voto em Mélenchon e fazem campanha ao esquerdista. Assim, Poutou já declarou que esta será sua última campanha, sem a presença de Besancenot, o NPA demonstrou-se frágil e sedento a uma figura mais firme e carismática. Parece que Poutou prefere voltar a sua vida de operário sob as engrenagens destruidores do capitalismo a lutar no jogo parlamentar e político para derrubá-lo, outra evidência da sujeira da política francesa? Esperemos as memórias de Poutou.




JACQUES CHEMINADE – Na maior parte do tempo, não é ao inventor de determinada tecnologia, descoberta ou postulado que recaem as glórias e a admiração. Apenas para revisar, não é hoje mais a Ford de Henry Ford que detém o domínio do mercado automobilístico nem mais a Sony dos walkman que domina o mercado de tocadores de músicas. O mesmo ocorre com o controverso homem político francês, Jacques Cheminade, herdeiro direto da tradição do sindicalismo político francês que confunde por vezes direita e esquerda mas se diz sempre à esquerda que em sua propaganda oficial de candidatura apresenta-se como o primeiro político francês a  prever uma crise econômica iminente que atormentaria o sistema capitalista internacional e em passos sucessivos o destruiria. Isso foi em 1995 e a suposta crise prevista por Cheminade seria esta que estamos experimentando agora (os europeus ainda mais que nós brasileiros). Como contraargumento a Cheminade vale dizer que quem está pagando o preço desta crise são muito mais as classes populares que o sistema capitalista que é sistematicamente protegido por governos nacionais tanto de esquerda como direita, e neste sentido ponto para Jean-Luc Mélenchon e François Hollande que deixam claro este ponto. O vazio de suas propostas e o ápice de seus dilemas internos encontra-se em sua proposta phare (aquele que é tida como principal), que prevê a separação das atividades bancários em depósito, crédito e popança como fez a Inglaterra do direitista David Cameron, para proteger estas atividades, que estão aos serviços dos cidadãos, e relegar à sorte do mercado as atividades de especulação, grande mal do capitalismo, um lugar comum de Cheminade para roubar votos da já implantada esquerda radical francesa (ver Poutou e Arthaud). Para marcar 1995, o argentino Jacques Cheminade candidatou-se a eleição francesa pelo Partido Operário Europeu (uma tentativa da época de se firmar como movimento de ação anticapitalista de orientação operária no jogo parlamentar da União Europeia) e obteve menos de 85 mil votos (0,28% dos votos). Dono de dilemas ímpares como seu anticapitalismo mesclado a sua origem em uma família de um cadre (profissional alto ou mediano com funções administrativas em uma empresa privada) francês em missão na argentina por uma multinacional francesa e seu relacionamento conturbado com os trabalhistas norte-americanos, relação que lhe rendeu uma ficha no FBI, Cheminade é um candidato um tanto quanto vazio e à luz de adversários dentro da esquerda radical como Mélenchon. Tendo sido ou não o primeiro homem político a francesa a denunciar em 1995 a crise iminente do sistema capitalista internacional, Jacques Cheminade tenderá a ser aquele nome que passe despercebido aos olhos da comunicação midiática francesa. Em 2012, o mais provável é que ele repita seu resultado em 1995 ou ainda a média obtida por partidos sindicais nas últimas eleições. No entanto seu fraco desempenho será mais fruto de seus dilemas internos e da convivência suspeita com trabalhistas americanos do que propriamente a forte concorrência no seio da esquerda.

Ficha do candidato Jacques Cheminade no FBI



Candidatos da Direita



NICOLAS SARKOZY (UMP – UNION POUR UN MOUVEMENT POPULAIRE) – Chefe do executivo francês desde 2007, Nicolas Sarkozy buscará em abril mais cinco anos no Élysée ao lado da bela primeira-dama francesa, Carla Bruni. Não é por acaso que falo em Carla Bruni, pois fora a bela primeira-dama francesa não restam muitos pontos a favor do presidente francês. Certamente, a França não é nenhuma Grécia, Espanha ou Portugal, e Sarkozy sabe disso. No entanto, a França também não é a Alemanha e face a crise financeira de 2008 e a atual crise da zona do euro a França sofreu muito mais que a seu vizinho germânico. Mais do que nunca, a máxima de que a França é o país dos vinhos, da alta costura e dos perfumes e a Alemanha a grande fábrica da Europa, onde são trabalhadas tecnologias de ponta, automóveis sofisticados e as mais diversas manufaturas europeias que encontram mercado em todo o mundo, está valendo. A França, mais do que a Alemanha, está de joelhos diante da finança e da crise, sua frágil indústria desloca-se dia e noite em direção ao estrangeiro (sobretudo à Tunísia e outros países maghrebinos que não apresentam nenhuma especialização técnica ou científica, mas em contra-partida, nenhuma atividade sindical organizada e salários baixíssimos. Além é claro dela, a China), é só olhar em sua mais recente roupa da marca do jacaré, que você verá Fabriqué au Perou, Fabriqué en Chine, etc. A indústria francesa é por sua vez um retrato fiel de seu presidente, focada em marcas de luxo, e portanto nichos de mercado, ela não é competitiva, salvo quando produzida no antigo terceiro-mundo, a indústria francesa é tão bling-bling quanto o próprio Sarkozy. No entanto, é preciso lembrar que não apenas de Hermes, Louis Vitton ou Dior vive a indústria francesa. A França é uma grande república de tradição industrial, a França é o lar dos mineiros do nordeste, dos comerciantes de aço e carvão, de grandes indústrias automobilísticas como PSA Peugeot-Citroën e Renault, das grandes indústrias químicas e farmacêuticas, de líderes na indústria nuclear civil, da construção naval, ferroviária, metroviária, com exemplos tão tecnológicos como dos seus vizinhos do outro lado do Rio Reno, como a construtora de aeronaves de Toulouse, Airbus ou dos pneus de Clermont-Ferrand da Michelin. Porém isso – tudo isso – passa despercebido de Sarkozy. A França de Sarkozy é aquele que esqueceu sua tradição industrial e as classes populares. Mas não apenas a tradição industrial foi esquecida, a Republicana também. Os imigrantes são cada vez mais estigmatizados com as circulares do Ministro do Interior chefiado por Claude Guéant, são estudantes estrangeiros que são mal acolhidos e vistos como adversários dos franceses no mercado de trabalho, famílias relegadas a formar uma sociedade paralela à dos franceses, vivendo em subúrbios sem a menor condição de habitação e também cidadãos impedidos de praticarem seu culto religioso livremente.

                Em 2007 Sarkozy apresentou-se como o candidato da ruptura. Cinco anos mais tardes não sobra nada além de promessas não compridas e engajamentos esquecidos. Faz-se necessário recuperar alguns dados (que já haviam sido mostrados por aqui anteriormente) do balanço de cinco anos de Sarkozy :



                Para afastar as bruxas de um tal balanço, Sarkozy se esforçou para comprovar que se houve alguma promessa que ele negligenciou, deu-se em função da crise mundial e em seguida europeia que assolou a França. Inteiramente vítima das circunstâncias, Sarkozy empreendeu uma campanha que associada ao fato anterior defende que se ainda há alguma risco de quebra da França esse se dá pela presença dos socialistas na política francesa e sobretudo, da lei das 35 horas semanais, as famosas Leis Aubry que instauraram esse regime da duração de trabalho para diversas classes profissionais em substituição as antigas 39 horas semanais (conquista de outro governo socialista, a da Front Populaire de Leon Blum, em 1936). O resultado desse direcionamento de campanha foi uma conquista do eleitorado standard da UMP, sem possibilidades de aventurar-se sobre outros eleitorados, como os centristas, os eleitores Le Pen (ainda das tentativas orientadas pelas políticas acerca da imigração e segurança pública de seu ministro braço direito, Claude Guéant)  ou até mesmo fortuitos socialistas, e de dessa forma que Sarkozy cava o próprio buraco.

O maior desafio de Sarkozy será fazer o eleitorado entender que ele somente não compriu as promessas dele da última campanha em função da crise econômica. E mais uma vez, uma externalidade poderá justificar a continuação de um governo ruim.




NICOLAS DUPONT-AIGNAN (DEBOUT LA RÉPUBLIQUE) – Ele já foi visto como menina dos olhos da UMP até deixá-la, hoje Dupont-Aignan sente o peso de todo o Estado UMP e a SarkoFrança sobre suas costas, uma medida clara da força deste jovem candidato que mesmo sendo de direita coloca-se como oposição à Sarkozy.

                Em um país onde a direita já se vê minada tanto pela esquerda quanto pela extrema-direita, seria o mais comum ver Dupont-Aignan de mãos dadas com Sarkozy para garantir-lhe um segundo mandato ou evitar o mal maior que seria uma vitória Socialista como as sondagens anunciam. Mas nada disso faz eco à Nicolas Dupont-Aignan, candidato jovem da direita soberana que dentre outras diferenças rompe com Sarkozy em função de sua complacência com a integração européia (uma ideia notadamente de esquerda). Longe de pertencer a extrema-direita, Dupont-Aignan defende uma França soberana, com moeda própria e constituição independente da Europa. Defendendo a volta do franco, Dupont-Aignan não alcança que 1,5% nas sondagens mais favoráveis à ele, em mais uma prova de que a Alemanha não é a França, acredita-se que em solo germânico o candidato que defender a volta do marco (moeda nacional alemã) partiria com 20% das intenções de voto, cenário que não se verifica na França. Ao curso da jornada eleitoral de 22 de abril, iremos concluir que a força política de Nicolas Dupont-Aignan de fato não terá sido verificada nas urnas, mas é bom não esquecer tão cedo seu nome. Jovem, Dupont-Aignan ainda tem um longo caminho na política francesa.




MARINE LE PEN (FN – FRONT NATIONAL) – A extrema direita francesa reclama a ela valores oriundos da democracia católica francesa, dos bonapartistas, do nacionalismo francês do século XX e dos anti-dreyfusard, formando por final uma grande embalagem patriótica pára a qual a imigração é a resposta e a causa de todos os problemas franceses. O ponto mais alto da extrema-direita francesa foi em 2002 quando com seu fundador Jean-Marie Le Pern chegou ao segundo turno e fez ser conhecida sua voz em toda o Mundo. Rompendo com esta extrema-direita, ao menos no plano midiático, Marine Le Pen tornou-se a candidata preferida dos jovens e dos operários, campos até então de domínio da esquerda e quando não do PS, do Partido Comunista. A candidata da extrema-direita de hoje não assemelha-se com seu pai, primeiro, pois o seu eleitor não é mais aquele oriundo do nacionalismo ou da direita bonapartista ou gaullista, o eleitor de Marine Le Pen é o mesmo que já votou na esquerda, seja na moderada socialista e discorda dos rumos desta, defensora do direito de imigrantes, da supressão de barreiras para a imigração, ou até mesmo da esquerda radical, com a qual compartilha o ódio em relação as classes dirigentes.

                Nacionalista mas também populista, o discurso de Marine Le Pen foi feito especialmente para ser recebido pelas classes populares. Partindo de sua indignação e denúncia ao sistema UMP-PS (aspecto compartilhado com outras candidaturas de protesto, todas de esquerda radical), Marine põe na Europa os problemas econômicos, sociais e demográficos da França (vale lembrar que os pilares da Europa e sua construção se deu sobretudo durante a presidência socialista de François Mitterrand), ele deseja assim romper com o Tratado de Schengen e abolir qualquer tratado de constituição comum ou políticas comuns, Marine é portanto como dizemos na política francesa, uma soberanista (souverainiste), prefere a França a frente da Europa (ao contrário dos grandes partidos UMP e PS, mas também da orientação de Jean-Luc Mélenchon). As propostas de Marine são em sua maioria populistas, em meio a uma campanha séria, ela fez da dificuldade dos jovens em obterem sua carteira de motorista (permis de conduire) uma dura crítica a Sarkozy, ou ainda faz da redução do preso da gasolina uma de suas principais medidas econômicas.

As mudanças na extrema-direita foram tantas que até em Marselha, cidade marcada pela influência maghrebiana e com grande presença de imigrantes, a FN está se estabelecendo, sendo Marine Le Pen a opção de diversos devotos do islão ! Não escapam no entanto a Marine Le Pen, algumas contradições, uma delas em relação a defesa nacional: ao mesmo tempo que Marine comemora o não envolvimento da França em guerras internacionais e critica o presidente Sarkozy pelas operações francesas em conjunto com a OTAN (com a qual ela pretende romper) na Líbia, ela deseja aumentar os gastos da França com defesa nacional (em meio a crise e a perda de diversos direitos sociais, diga-se), elevando-os à 2% do PIB e construindo um novo porta aviões. Inevitável pergunta: por que aumentar os gastos militares se há o desejo do não envolvimento em guerras nem a emergência de nenhuma potência vizinha que possa configurar o famoso dilema da segurança?


E como sempre ... o pretendido centrismo de Bayrou


FRANÇOIS BAYROU (MODEM – MOUVEMENT DÉMOCRATE) – Candidato em 2002 e 2007, Bayrou vai a sua terceira tentativa de eleger-se Presidente da República Francesa. Se em 2002 correu contra Bayrou a clivagem dos franceses à esquerda (com candidaturas de Jospin, Laguiller, Chevènement, Mamère e Besancenot, dentre outros) e também a força da extrema-direita que chegou pela primeira vez ao 2° turno, em 2007 o candidato centrista apareceu como a saída ao sistema UMP-PS como os franceses gostam de falar, ou seja, em 2007 ele era o candidato melhor posicionado a bater tanto a UMP como o PS (muitos franceses acreditam que ambos, apesar de defenderem bandeiras diferentes, um à direita e outro à esquerda do espectro político, seguiram políticas semelhantes em seus governos e são os responsáveis do impasse da França) sem cair na ameaça da extrema-direita ou recorrer a um candidato da esquerda revolucionário (mais uma vez nesta eleição representados por Besancenot e Arguiller). A boa posição lhe valeu um terceiro lugar e bons 18,57% dos votos (os quais seriam cotisados mais tarde tanto por Nicolas Sarkozy quanto pela socialista Ségolène Royal, o que como vimos antes configurou um choque na unidade do PS) e sobretudo a validação para uma terceira tentativa de vencer a presidência.

Para completar o cenário favorável em torno de François Bayrou pesa que segundo sondagens, ele é a figura política favorita dos franceses, sondagens nas quais Sarkozy patina e Hollande é barrado tanto à sua esquerda como à sua direita, mas é bem recebido pelos centristas. Com diversos pontos a favor, ou atouts como diriam os franceses, somado a um balanço de governo negativo para Sarkozy e uma descrença cada vez maior dos franceses em relação aos socialistas (personificada na teoria que o PS depois de Mitterrand e Delors nunca teria um bom nome para brigar a presidência e portanto seria relegado às eleições cantonais e regionais, nas quais é o primeiro partido francês há anos), 2012 mostrava-se como o ano de Bayrou. Mas nem tudo foi assim. Começando por Sarkozy : nos últimos meses o presidente francês voltou a ser bem visto pelos franceses, em parte os pertencentes à direita (fato garantido pela aderência de diversos pré-candidatos de direita à companha de Sarkozy, notadamente o também centrista Jean-Louis Boorlo e a líder dos católicos democratas de direita, Christine Boutin) e os despolitizados. No PS, o pós primárias garantiu a legitimidade necessária ao seu candidato (fator nunca obtido por nenhum candidato desde Mitterrand) e devolveu ao partido a confiança e o entusiasmo de seus militantes (abalados após o Abril de 2002 quando perderam para a extrema direita a segunda vaga ao turno decisivo da eleição). Mas nem o état de grâce de Hollande ou o relativo crescimento de Sarkozy são aos maiores ameaças para Bayrou em 2012. As ameaças encontram-se nos extremos do espectro político.

                Defrontados à uma crise mais forte que nunca, uma desindustrialização mais rápida que nunca e um sistema bancário em risco, em 2012 os franceses tendem a optar pelos extremos, independente de estarem à esquerda ou direita pois uma vez à luz da confrontação de ideias eles não se diferenciam muito (à exceção de assuntos caros à esquerda e oportunidades de diferenciação da esquerda, como a imigração e o islã). Comprovação disso é a clivagem de Sarkozy a direita (aproximando-se da FN em um esforço de tentar conquistar seus eleitores) e de Hollande à esquerda (tentando recuperar a euforia dos anos Mitterrand), mas sobretudo a disputa entre Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon pelo terceirolugar, outrora pertencente à Bayrou.

Como é natural ao ideal centrista, a falta de clareza sobre as posições de Bayrou, em um momento de crise poderá ser definitivo à sua derrocada política e ao esfalecimento da MoDem como proposta à hegemonia UMP-PS. Mas como é comum na história francesa as sondagens mostrarem resultados longe dos aferidos na contagem de votos, esperemos o 22 de abril para mensurar o peso do centrismo e o real efeito da boa imagem de Bayrou em meio ao eleitorado francês. Ao que me parece, François Bayrou não verá uma quarta campanha.



SONDAGENS

Instituto IPSOS - 10 Abril/2012

Intenções de voto no primeiro turno da eleição presidencial - IPSOS/10 abril
Evolução das intenções de voto no primeiro turno - IPSOS/10 Abril
Intenções de voto no segundo turno da eleição presidencial - IPSOS/10 Abril


Evolução das intenções de voto no segundo turno - IPSOS/10 Abril
Relação dos votos do primeiro e segundo turno dos outros candidatos - IPSOS/10  Abril


Instituto CSA - 23/Abril 2012

Intenções de voto no primeiro turno - CSA/23 Abril

Evolução das intenções de voto no primeiro turno - CSA/23 Abril
Distribuição das forças políticas no primeiro turno - CSA/23 Abril



Intenções de voto no segundo turno da eleição presidencial - CSA/23 Abril

Evolução das intenções de voto no segundo turno com eventos - CSA/23 Abril

Razões do voto. Em azul se vota em deteminado candidato por desejar sua eleição, em vermelha se vota para vencer seu adversário - CSA/23 Abril



CONCLUSÃO

                Marcado para o próximo domingo o Primeiro Turno da Eleição Presidencial francesa continua aberto e como diria em francês, rien n’est joué. Se analisarmos as sondagens, muita coisa mudou nos resultados que nos foram apresentados : à sequência das primárias do PS, a investitura de François Hollande alcançou 35% das intenções de voto, em seguida entrou em processo contínuo de queda, foi ultrapassada pela de Nicolas Sarkozy, mas nos últimos dias retomou a progressão e aparece com médias entre 26-29%, alternando-se na primeira ou segunda colocação, a frente ou atrás de Sarkozy. O terceiro lugar já viu várias disputas, houve a época em que Sarkozy e Marine Le Pen brigavam pelo segundo lugar, em seguida o crescimento de François Bayrou nas pesquisas e sua emergência pela terceiro posto. Nestes dois momentos Marine Le Pen manteve-se em terceiro lugar, no entanto o cenário atual não garante esta posição a número um da FN, há algumas semanas já temos visto o grande avanço de Jean-Luc Mélenchon e a briga dos dois candidatos dos extremos recolhendo ambos entre 15 e 19% das intenções de votos.

                Neste plano de muito disputa, eu vejo dois possíveis cenários para a noite de 22 de abril, são eles :

1)      Uma repetição de 2007 na qual os dois candidatos dos partidos de poder (UMP e PS) terão seus candidatos com considerável vantagem sobre os demais. À época, François Bayrou – terceiro colocado – somou 18,5% - dos votos, longe dos 31% de Nicolas Sarkozy e 26% de Ségolène Royal. E o cenário que as sondagens atuais nos mostram para 2012.

2)      Um retorno de dez anos na linha de tempo, direto a fatídica noite do 21  de abril de 2002, na qual nenhum candidato conseguiu despontar e impôr plenamente sua candidatura, isto que tanto o presidente, Jacques Chirac (RPR, antiga UMP), como o primeiro ministro, Lionel Jospin (PS), candidataram-se. Na ocasião a diferença entre o segundo (Jean-Marie Le Pen) e terceiro colocado (Lionel Jospin) não foi maior que 200 000 votos, seja 0,7% dos votos. É este o cenário que os candidatos de contestação – Marine Le Pen (FN), Jean-Luc Mélenchon (FDG) e esquerda radical (Poutou e Arthaud) – desejam. Vale dizer que o desejo desses candidatos não está apenas em dar um impulso as suas candidaturas mas também – e principalmente – pôr em cheque a hegemonia UMP-PS do debate político (a qual perdura desde o início da V República, de orientação Gaullista, em 1958). As sondagens não consolidam este cenário mas à luz do descontentamento dos franceses em relação às classes dirigentes e seu fraco interesse pelas eleições, não podemos descartá-lo.


Oscar Berg,

Brésil, Le 18 avril 2012