Reproduzimos abaixo a
carta aberta do deputado Sergio Coronado (Verdes EELV) endereçada ao Ministro
das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, a respeito da retenção do
Presidente Morales em Viena. Sergio, que me recebeu recentemente na Assembleia
Nacional em Paris, representa os franceses que vivem na América Latina e Caribe
e é um atuante deputado do reatamento das relações da França com os países
latino-americanos, uma região que o antigo governo Sarkozy/Fillon deu pouca
atenção. Essa carta foi inicialmente publicada no Le Monde.
Sergio Coronado na tribuna da Assembleia Nacional |
Na terça-feira, 2 de julho a noite, o Presidente da República
da Bolívia, Evo Morales, foi obrigado a realizar uma escala imprevista em
Viena, na Áustria, tendo a França e Portugal fechado brutalmente seu espaço
aéreo pelo motivo infundado da suposta presença de Edward Snowden a bordo do
avião presidencial.
Snowden, ex-agente da CIA e da National Security Agency é um lançador de alerta. Ele tornou
pública a existência de um grande programa de espionagem de massa da
administração americana chamado Prism.
Além da espionagem dos governos europeus, o governo
americano realiza uma violação de direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos do mundo todo. O Presidente e o governo francês pediram explicações ao
governo americano.
Mas no momento atual, Edward Snowden, que ninguém nega a
veracidade de suas revelações, continua retido em um aeroporto russo e exigido
pela polícia americana.
LÓGICA SECURITÁRIA
As relações transatlânticas parecem prisioneiras de uma
lógica securitária acrescida pelo retorno da França na OTAN em abril de 2009.
Bastou um rumor para que um avião vindo da Rússia fosse interditado de
sobrevoar nosso território. Edward Snowden parece ser tratado como um
verdadeiro terrorista, um Chefe de Estado sul-americano foi ofendido.
O Presidente da República Francesa, informado da presença de
seu colega boliviano neste ano, teria mudado sua decisão de interdição do
sobrevôo de nosso território. Contudo, o mal já estava feito. Não é necessário
subestimar a amplitude de desgastes diplomáticos para as relações de nosso país
com o continente latino-americano.
No dia seguinte, a Embaixada da França na Bolívia foi
atacada por pedras arremessadas contra ela, bandeiras francesas foram queimadas
e o Presidente do Equador e do Peru convocaram uma reunião da União das Nações
Sul Americanas (UNASUL), atualmente presidida por Ollanta Humala, a fim de
determinar uma resposta enérgica às humilhações cometidas pela França, Itália,
Espanha e Portugal. O Presidente Boliviano evocou uma agressão aos países
latino-americanos.
RECONSTRUIR A CONFIANÇA
A coragem de Edward Snowden deve ser saudada. Há um ano, o
ministro das relações exteriores francês relançou as relações diplomáticas com
o continente latino-americano. Desde a chegada ao poder da atual maioria, uma
dezena de visitas diplomáticas foi organizada.
Os ministros se deslocaram várias vezes ao continente para
reatar as relações com os governos locais. Mas o atlantismo que a França
demonstrou nas últimas horas enfraquece os esforços do governo.
É necessário reconstruir a confiança com o continente
latino-americano, perdida por este lamentável caso, e, sobretudo, tomar uma
iniciativa de restituir a confiança das chancelarias dos países membros da
UNASUL.
Sergio Coronado. Deputado dos franceses estabelecidos na
América Latina e Caribe).
TRADUÇÃO DE OSCAR BERG
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